Os
ponteiros do relógio deslizam numa fração de milésimos e, quando nos damos
conta, já estamos ultrapassados por des-culpas. Não há como reconstruir sobre
escombros. Mesmo que seja doloroso se faz necessário e, sem dúvida, ético que o
sujeito se posicione no âmbito de sua dor. Respirar fundo, não significa
engolir sapos, mas aprender a economia da energia psíquica, sem desperdícios, para
que se faça possível no real sustentar o percurso que se busca.
O
tempo não leva desaforo, talvez deva a questão que não há tempo a perder com o
que não veste. A necessidade de reconhecer o próprio corpo, o lugar e o peso
que ele ocupa no espaço tempo que permanecemos, promove um rompimento com a
repetição obsessiva do antigo-tão-novo que sempre irá insistir na
reivindicação do seu lugar em nós.
Talvez
seja essa a razão qual perdemos o lugar tão almejado, fracassando no êxito. O
sucesso depende da aposta num futuro incerto e sem modelo definido. Em hipótese,
arrisco a colocar a experiência da análise em pauta. O sujeito quer alcançar
uma vida menos caótica, mas quando percebe que será necessário se ralar todo, hesita
e acaba pagando um preço muito mais alto por ter recuado de si mesmo.
Dentro
de cada um de nós, sujeito humano, há partículas minúsculas que carecem de um
pensador para pensá-las melhor. Quando abandonadas à mercê sob a ordem da irresponsabilidade
de si mesmo, a vida vai se oxidam com o tempo, endurecendo o corpo falante e
faltante, envelhecendo o vocabulário que possibilitaria ultrapassar o lugar medíocre
de vitimização.
O
sujeito não apenas leva em si mesmo somente o que consegue
carregar, em última instância, excedendo sua capacidade. Mas também carrega as
próprias perdas embebidas de memórias de angústia, dor, inspirações e sonhos
não-realizados. O ser humano transpira uma história que ultrapassa o sentido, o
tempo e a sua própria existência no mundo, que são às vezes condensadas em
criação e, outras, num limpo de um quadro branco que emperra, engessando o
movimento de desejo de vida.
A
proposta da psicanálise é deslocar, desconstruindo o lugar assumido pelo
sujeito de ser robusto ao olhar do outro, para se elevar a um alto nível
cultural que não faz sentido para a transformação de si mesmo. Na análise os
desejos recalcados trazem à consciência, ao discurso a esperança de se
realizarem através do a-colher da escuta do analista.
Os
dias podem ser curtos, mas para o sujeito que aposta no osso de fazer-saber de
si mesmo na experiência da montanha-russa-da-análise, certamente reconhecerá a
vida longa e bem vivida que experimentar nos intervalos que o inconsciente em análise
pode possibilitar.
Abraço,
Maicon Vijarva
Que texto fantástico. Parabéns,acompanhado o blog e é perceptível ver o quanto cresceu na escrita e na colocação de sua posição nos seus textos.
ResponderExcluirSucesso!
Se ralar todo. É isso mesmo.
ResponderExcluirAmei o texto.