2.7.19

DIAS COMPRIMIDOS

Desabraçar o que mais se amava, às vezes é a forma mais lúcida de amar. Não se trata de uma questão de escolha, talvez seja mais por sobrevivência mesmo. Você certamente já deve ter convivido com esse assombroso sentimento de limite entre viver ou morrer simbolicamente. Talvez a saúde física seja mais consequência de alguns não que aprendemos a dizer mesmo com medo de que tudo desmorone. 

Dizer não dói na pele, faz furo impossível de tamponar por toda alma, ressoa os equívocos no simbólico do corpo. Esvazia dos excessos. O dizer velado nessa palavra minúscula não é qualquer, tem peso e medida, e há o risco de que tudo escorra pelo ralo no mal-entendido que ecoa em som pesado no próprio ouvir e no ouvir do outro. 

Recuso ficar adormecido, tudo na vida tem limites. Viver dias compridos e tentar comprimir a realidade deixando-a minúscula com os efeitos desse comprimento positivista e passivo é o atentado mais massacrante que pode-se tentar contra si mesmo. A vida não tem nada de bela, mas desejar não sentir a dor socando goela abaixo uma substância não tornará a vida mais bela mas mais ainda o pior do seu horror. 

Prefiro continuar a ser esquizofrênico por inventar uma realidade paralela ao ter que me sujeitar a esmagar os meus dias em comprimidos que dizem poder salvar-me de mim mesmo. Isso é blasfêmia. A vida urge e exige de cada um de nós o mínimo: aprender a falar do que dói, e não onde dói; a tentar dizer mesmo que não existam palavras. 

Se fomos tão criativos em criar um comprimido que alivie o sintoma, podemos muito bem aprender a salvar a nós mesmos através dos mal-entendidos que aprendemos a ouvir quando aprendemos como falar melhor para nós mesmos e, como consequência, também para o outro. 

Talvez, mas talvez mesmo... a análise seja para o psicanalista a aposta de que o sujeito aprenda nos dejetos de sua fala endereçada ao analista, aprender a falar com o que resta do dejeto da fala faltante do seu vazio. E meu caro, o que resta é sempre o pior, e haja sabedoria para criar desse lugar.

Maicon Jesus Vijarva

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