Na alteridade do seu interior, ela sentia uma responsabilidade em viver. Embora a conta jamais fechasse, ela levava a vida sempre a se cobrar sob o grande olhar do Outro. Ainda que soubesse lá no fundo, confiava que esse outro não fosse a sua própria criatura, mas algo que fazia morada do lado de fora de si. Mulher profunda, uma grande menina sonhadora. A realidade sempre fora cruel, mas não mais que ela consigo mesma. Ela conseguia se ferir mergulhando de cabeça no ideal que a matava pouco a pouco. A religião foi sua aposta de volta por cima, na reviravolta que a vida sempre lhe trazia como oferta de ressurreição. No entanto, estava tão mergulhada nas palavras que soavam seguras da boca dos lobos vestidos de cordeiros, que o inquietante estranho que a habitava se transformou em inimigo declarado. A vida sempre fora injusta, mas ela não se poupou em fazer pior por si mesma. Escriva sobre si em fragmentos que ressoavam entre a carne, alma e o que imagina ser ou vir a se tornar. Tudo era muito profundo e ela insistia mesmo permanecendo por si mesma afogada em seu estomago, inundada pela doçura que economizava nos dias de vida. Havia muita doçura acumulada, ela não contava que essa mania obsessiva de acumular se tornaria uma diabetes mellitus tipo 1. As complicações foram de certa maneira uma espécie de alívio. A vida lhe era muito cara, e ela já não produzia mais insulinas criativas para sustentar o seu corpo simbólico. A vida nos exige e é necessário tolerar o cair do símbolo, para que o simbólico se reproduza de outras maneiras menos sorrateiras no corpo que tenta recitar palavras que ainda não existem.
um abraço,
Maicon Jesus Vijarva
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