21.6.19

O AMOR É SINTOMA QUE IMPLICA A FAZER MELHOR COM O PIOR


Querido amor, desde o dia que resolveu me deixar... eu fiquei sem equilíbrio nos pés para sustentar o caminhar. Estou cambaleando de cá para lá na esperança de tropeçar em ti e desmoronar em teus braços ao contornar a próxima esquina. Quero me despencar em pecado se for necessário para me deliciar da sua impureza. Será que alguém iria entender essa sacanagem que me faz ajoelhar todos os dias? Te amo a ponto de querer me tomar de ti para que não caia em tentação em se render aos meus desejos. Peço que venha, mas desejo que nunca diga sim. 

O meu fim constituiu em você realizar todos os meus caprichos e picotar a imagem que ficou de nós. As palavras viram carne quando ressoadas por mim, meus lábios espumam e vomitam sangue vermelho vida. Sinto-me tão miserável em parar meu mundo por esse sintoma que faz flashblack de um passado que sequer vivemos. Ei, meu amor... preciso te contar que estou abandonando a gente, deixei tudo no teatro em que nos conhecemos. Ou seria essa mais uma das minhas tentativas infrutíferas de ensaiar a despedida que nunca acontece? 

Caramba, o que tu levaste de mim que sequer eu mesmo tenha noção do que se foi com sua saída repentina? Certeza que o álcool te salvou das lembranças boas e permitiu que fosse homem o suficiente para partir sem que eu fizesse isso por você. Mas queria eu ter partido, porque esse era também o meu maior problema ao me confundir com ti. Nunca tenho coragem de partir por mim mesmo. O outro sempre se figura divino e me faz ajoelhar buscando perdão por erros que jamais empreendi. 

Por isso desejo em tão alto grau cair em tentação, conhecer a maldade que poupei por anos e que sorria para o mundo como bondade ao outro enquanto queria eu que todos experimentassem o que há de mais horroroso em cada um de nós humanos. Amar é tão abstruso que nos faz encarar de frente o nosso pior! Sorte foi a minha que tenha nos partido em vários pedaços e me deixado com o resto que ficou de mim para minha responsabilidade. 

O resto é sempre o processo mais caloroso que um ser humano pode trabalhar o seu próprio dejeto e reciclar o que ainda pulsa vida: a palavra que faz a carne viva sangrar pela boca na tentativa de fazer saber sobre o que nos amarrota a vida.

Maicon Jesus Vijarva

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