30.10.18

SOBRE PRE-VER O DESTINO


A vida não depende tão-somente de nós; o contexto familiar, social e cultural são de extraordinário valor na afinidade entre a expectativa e a realidade. Os resultados esperados do que se previa desenha um borrão cruel na imagem idealizada. Contratempos, equívocos e surpresas ocorrem e são importantes durante a passagem da fantasia para o real. É necessário levar em conta os impedimentos que podem e irão ocorrer.

Vivemos em tempos compulsivos, convulsionando uma positividade e passividade frente à vida, que encurrala e inviabiliza enxergar as irregularidades da visão do horizonte.  Desde seus primórdios o ser humano vive uma ilusão frenética em prever tudo que ultrapassa o seu controle: o tempo, o amor, a morte etc. As previsões futurísticas anunciam um perfeito fracasso nas tentativas de controlar o indomável, que escorre entre os dedos do universo anatômico humano.

O amor, o tempo, a morte e tantos outros furos que ultrapassam o humano, se mostram anos luz à frente à época. Planos promissores autenticam fiascos resultados na realidade. E por incrível que pareça, o despertador sempre está ajustado a acordar em um passo do paraíso.

Isso testemunha que, no instante em que se transmite à cargo do acaso, as oportunidades de se frustrar são assombrosas. É preciso se entregar aos planos ambiciosos, mas é fundamental colocar na conta o imprevisto, a surpresa e a falha que implica recalcular todo o roteiro escrito detalhadamente por cada sujeito.

Acreditar que o universo seguirá à risca o roteiro ideal de vida é uma ilusão com dimensões 3D, que assusta e decepciona em nível tridimensional. Vale lembrar que na experiência psicanalítica, cada sujeito aprende [às voltas de sua subjetividade] a compreender que o tempo da vida acontece em função da ausência de previsão.

A experiência convoca o sujeito a se desenhar através da sua ignorância, não do que aposta saber. Todo mundo sabe alguma coisa do objeto de desejo, mas poucos tiveram a oportunidade de viver a experiência com e atravessado por ele. As rotas determinadas que o sujeito insiste em seguir cegamente muitas vezes estão largas ou curtas a sua realidade, levando sempre ao choque brutal de ruas sem saída.

Logo, a tentativa desse ensaio informar que todo esse dinamismo rasura o discurso da perfeição, da verdade inteira de um saber. Um dito é certo: a cada um cabe, à sua maneira, reinventar e manter viva sua existência. A única garantia é que o amor anuncia a passagem do tempo: a morte. O dia dura o tempo necessário para que o amanhã floresça.

Abraços, 
Maicon Vijarva 

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