Nino Cais |
Estávamos sempre em desencontros mesmo que na ralação do amor que nos unia. Era belo mas apavorante como queria ser livre se prendendo as ilusões. As aventuras dos quartos dos hotéis deixavam marcas de excitação e desejo em alcançar o desconhecido que desses encontros se fazia existir. Engraçado é saber que o nosso hotel favorito tinha os tons bregas da cortina do seu quarto, e fazíamos amor pela manhã entrelaçados com a preguiça, com o desejo de permanecer ali mas com a insistência das obrigações do dia que ecoavam em nossos ouvidos.
O café da manhã me bastava um cafezinho, e você sempre se empanturrava de tudo que o hotel nos oferecia. Não dá pra desperdiçar, você dizia... eu amo comer. Que bom, pensava eu. Não sinto fome, me alimento do nosso amor pela manhã. Mas às 10:00 me abasteço de um pãozinho e mais um café para saborear as lembranças de cada quarto daquele hotel, branco e canta a metrópole interior. Meu interior estará sempre cheio de ti, embora não mais de perto. A vida e minhas palavras às avessas que diziam vá, querendo que você ficasse, fizeram dança e fomos nos afastando. Mas há tanto de mim em você, que me faz lembrar as razões por te amar e te odiar tanto.
A recepcionista do hotel tropeçou em mim enquanto caminhava solto em recordações pela rua, e me perguntou porque não tinha mais meus encontros com você no hotel. Disse para ela que estamos em desencontros, nos encontrando com novos amores. Ela sorriu, e me disse que a vida é uma loucura, que precisamos aproveitar o que nos faz bem zelando para não nos destruirmos com o fim de tudo que é bom.
Sorri, e disse preciso ir. E tenho seguido a vida, insistindo, buscando tocar o que me inquieta, embora sempre chegue alguns minutos depois. Lacan estava certo em suas considerações, não há só desencontros com o amor, mas com o que nos faz desejar. Talvez seja a morte o momento de tocar e brincar com a imagem final desse quebra-cabeça.
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