A vida é um redemoinho de angústia.
Safra em Po-ética na clínica contemporânea levanta questões a respeito da atitude
do analista ao pedido da demanda de socorro do seu analisante. O que fazer? O que
dizer? Não existe palavras que recomponha o sujeito que vive numa
bacia-angústia.
A função de presença-ambiente
proporciona ao analisante possibilidades de pensar melhor as rotas de sua vida.
Refletir sobre as atitudes tomadas e aos poucos ir se responsabilizando pela angústia
consequente dessas tomadas de direção. Viver é falhar, e falhar na ótica de
nosso tempo é ainda visto como falta de desempenho, falta de foco e
originalidade.
Muitas vezes conceitos saturados em
psicanálise também produzem essa mesma ótica de um outro lugar. Em tempos de
setembro amarelo em que todo mundo parece perceber a tragédia do humano, chovem
frases motivacionais e esperançosas. A palavra pode fazer muito por nós humanos,
mas nem sempre salva vidas num único mês, oprimindo e retalhando essas vidas
durante todos os outros dias e anos.
Para Bion é necessário que sejamos capazes
de aprender atentamente a escutar sem desejo, sem memória e sem ânsia de
compreensão. Não há como compreender um sofrer por mais avançados que sejamos
em teorias ou técnicas para aliviar sintomas. Não podemos esquecer que a vida é
um sintoma primário de um sujeito. E muitas vezes viver é aprender a criar com esse
sintoma que nos provoca a morrer todos os dias, não pelo ato final. Há diversas
maneiras de morrer em vida.
O sujeito mata a si mesmo de
diversas formas sem alcançar o seu ápice. É por isso que não basta testemunhar
a dor do outro, é preciso muito mais que ouvidos. É preciso escutar para além
de si mesmo. E quem suporta colocar-se a escuta da dor do outro sem palpitar ou
dizer que sofre na mesma medida ou pior ainda?
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