9.9.19

ESCUTAR PARA ALÉM DE SI MESMO


A vida é um redemoinho de angústia. Safra em Po-ética na clínica contemporânea levanta questões a respeito da atitude do analista ao pedido da demanda de socorro do seu analisante. O que fazer? O que dizer? Não existe palavras que recomponha o sujeito que vive numa bacia-angústia.

A função de presença-ambiente proporciona ao analisante possibilidades de pensar melhor as rotas de sua vida. Refletir sobre as atitudes tomadas e aos poucos ir se responsabilizando pela angústia consequente dessas tomadas de direção. Viver é falhar, e falhar na ótica de nosso tempo é ainda visto como falta de desempenho, falta de foco e originalidade.

Muitas vezes conceitos saturados em psicanálise também produzem essa mesma ótica de um outro lugar. Em tempos de setembro amarelo em que todo mundo parece perceber a tragédia do humano, chovem frases motivacionais e esperançosas. A palavra pode fazer muito por nós humanos, mas nem sempre salva vidas num único mês, oprimindo e retalhando essas vidas durante todos os outros dias e anos.

Para Bion é necessário que sejamos capazes de aprender atentamente a escutar sem desejo, sem memória e sem ânsia de compreensão. Não há como compreender um sofrer por mais avançados que sejamos em teorias ou técnicas para aliviar sintomas. Não podemos esquecer que a vida é um sintoma primário de um sujeito. E muitas vezes viver é aprender a criar com esse sintoma que nos provoca a morrer todos os dias, não pelo ato final. Há diversas maneiras de morrer em vida.

O sujeito mata a si mesmo de diversas formas sem alcançar o seu ápice. É por isso que não basta testemunhar a dor do outro, é preciso muito mais que ouvidos. É preciso escutar para além de si mesmo. E quem suporta colocar-se a escuta da dor do outro sem palpitar ou dizer que sofre na mesma medida ou pior ainda?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário e compartilhe com seus amigos.