24.10.18

A ÉTICA DE SE FAZER EXISTIR


Muitas vezes, quando se busca o lugar de analisante, o sujeito dá espaço à divisão do não-lugar em sua vida. Assume o momento exato em que estar à beira, na ponta do precipício. Olhar para si mesmo é, senão olhar para o abismo, olhar para o interior; e o mais próximo possível mergulhar no desconhecido que emerge.

A vida são folhas, telas e paisagens neutras esperando que cada um de nós coloque algo de mais belo e ao mesmo tempo de mais caótico de si em cores de poesia, arte e invenção peculiar. A vida espera de cada sujeito a ética de sua subjetividade no coletivo social.

Aposto tudo na ideia de que a psicanálise seja dessa ordem de promover do não-dito, do não-lugar, do não-sucesso um fazer-saber do verdadeiro diálogo: no sentido de escutar a alteridade subjetividade da invenção do que borbulha dentro de cada um de nós: sujeitos-humanos-desejantes.

Embora há quem viva bem sem análise, pagando caro pela indecisão de jazer à beira do penhasco e, cá entre nós, esse não é o melhor lugar para se estar. Para alcançar alguma-coisa na vida, faz-se necessário respirar fundo e dar alguns passos e pular em direção à escuridão atemporal de nós mesmos: acessando o discurso ilógico do inconsciente.

Somente nessa aposta de fazer-saber sobre o desconhecido do inconsciente é que aprende-se melhor sobre o frescor de existir. As metáforas são necessárias para que o sujeito possa criar um suposto saber do que implica o não-lugar. Desconstruir o caminho já conhecido, para que seja possível abrir um enorme espaço disforme que divide o que se foi do que ainda se fará necessário criar para existir e seguir inventando.

Na experiência da dura tarefa de exis[insistir]tir, voltar significará repetir obsessivamente as dolorosas lembranças de nadar no pântano pegajoso da indecisão: pular ou não na escuridão interior desse abismo. A experiência na vida é irônica, tem um senso de humor bem estranho e convoca o sujeito à coragem em aprender melhor sobre como existir no mundo.

A aposta é justamente essa ou passar o resto da vida com os pés acorrentados no alto de um penhasco, escutando os ruídos de lembranças de um passado catastrófico e sentindo o frio que chama ao fôlego da existência. O que nos prende no passado são as razões de um futuro incerto, frágil que sem medo muda o tempo todo. 
Nunca se saberá ao certo o que guarda o abismo tampouco o que reserva o futuro para quem vive. A experiência convoca cada um a se responsabilizar pelo que está disposto a perder em arriscar pela ética de se fazer existir.

Abraços, 
Maicon Vijarva 

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