26.9.18

MAIS, AINDA AMOR


A vida é uma montanha de escombros. A arte de viver é justamente reconhecer o pior que existe em cada sujeito, para que seja possível desenvolver a capacidade de suportar ultrapassar a leveza do que tange a [des]ordem do amor.

O antagônico do amor é o ódio que se nega pelo outro, sendo ambos constituído por uma dupla face de um mesmo corpo que sustenta a atemporalidade ilógica da gravidade da vida, a força fraca e a força forte que endereça o sujeito em direção à experiência com o mundo externo, atravessado pela falta do outro.

A dança das cadeiras no que implica o relacionamento, é uma maneira pueril de negar a possibilidade de cair de joelhos pela incapacidade de suportar o que o amor oferece, a impossibilidade de caber na falta [demanda] do outro.

Amar não é simples, mas é uma belezura insuportável de sentir. O amor não causa desgaste, dor ou sofrimento. O que convoca o amor a sair de cena é o narcisismo desmedido, mas sem certa dose de narcisismo é impossível que o amor se sustente e atravesse a dupla amorosa. O amor nasce na capacidade de sustentar a frágil linha da singularidade.

Em última pontuação, completo a reflexão com uma implicação da psicanalista Ana Suy, “Amor é aquela coisa que, por vezes, quando sobra, é porque está faltando”.

Abraço,
Maicon Vijarva

21.9.18

O SABER INCOMPLETO EM NOSSO TEMPO


O futuro depende de como cada sujeito reconhece e interpreta o horror e beleza do seu sintoma no presente, uma vez que, tanto o mundo quanto ao saber que se constrói consigo mesmo e com o outro se faz-saber disforme e incompleto.

A globalização de nosso tempo instaura um relevo de questionamento sobre algo que já insinuava um ruído daquilo que o humano significava como conhecimento. A psicanálise desde Freud inaugurava uma litura sobre o que o sujeito discursa como saber e faz questão sobre o conhecimento, promovendo a pulga da dúvida sobre o saber completo.

Se o mundo novo é horizontal, com aludes de saberes incompletos, logo o mundo e o saber são incompletos em sua totalidade. Qualquer que seja a conclusão que produzimos das coisas, do outro e de nós mesmos são precipitadas.

Toda essa ideia faz auê na construção de um saber, quando a praga da reflexão atravessa e desata os pilares ruindo o que sustenta a ilusão social. O sujeito que espera um saber completo de tudo que compõe um silogismo, para então apostar em seu percurso, está predestinado a ser engolido pela areia movediça da indecisão.

Se é impossível prever o futuro, saber-fazer [em análise] sobre o que nos causa, possibilita que sejamos melhores na capacidade em reconhecer o percurso do presente que nos levará a sermos criativos na aposto do futuro.

Abraço,
Maicon Vijarva

18.9.18

O AMOR É DE UM TEMPO NÃO LÓGICO

 

Idealizar o outro que endereçamos nosso amor romantizado, admirando, querendo [mesmo que impossível] tatuá-lo em nossa pela é inevitável. A ordem do mistério que tange o amor faz com que o sujeito se contorça em decepções e fúria.

É uma oportunidade compreender que nada se aprende sobre o amor, é descobrir que é mais sobre conhecer os efeitos da experiência e, por mais que amemos o outro, não poderá ele nos salvar de nós mesmos, por causa disso.

Tampouco seremos nós a salvação das mazelas que emperram a vida daquele que endereça o seu amor à nós. Compreender isso tudo, envolve muito trabalho, seja dentro ou fora da análise. Fazer-saber mais sobre isso não vem por gravidade, mas de um suor que nos atravessa o campo lógico.

É uma ilusão confortadora e apaziguadora imaginar que todo perrengue que enfrentamos durante nosso percurso de vida será compensado por o surgimento de um príncipe encantado ou princesa que possa iluminar o umbral que vivemos após as experiências catastróficas com os ex-amores.

Em contraponto, seria muito mais justo se pudéssemos reconhecer que é muito mais proveitoso estar aberto a novas experiências, sabendo do risco de cometermos os mesmos erros, de uma maneira diferente, singular.

Não se trata de ganhar ou perder, mas de apostar tudo em algo que não se sabe em que vai dar e sentir o doçura e azedume que é gozar melhor na vida.

Abraço,
Maicon Vijarva