20.2.19

ENTRE QUATRO PAREDES ESCURAS É POSSÍVEL ENXERGAR-OUVIR MELHOR


É tarde, o ponteiro interior aponta para um tempo avesso ao que se passa diante do olhos. Uma voz baixa, de tom pueril exclama aos gritos que a direção do caminho está precipitada. Loucura! É uma doideira só que atormenta e faz ecos. Às vezes parece que se está beira da loucura.

Escute só! Eu falo sério. Ouço vozes chamando meu nome. Um frio arrepiante na espinha-dorsal toma conta do corpo e emudece o som de socorro. Os joelhos fraquejam, mas o desejo não cede, mesmo encharcado de medo continua a percorrer o curso.

Amparado no desejo de continuar, insiste. Que garoto, que chatice de insistência. Mesmo que o corpo não queira, o desejo coça e chacoalha persistente. Burrice é tentar trapacear, as consequências são terríveis e deixam marcas no corpo. É como queimar a língua com algo quente, mas nunca mais irá passar.

O desejo deixa rastro, e ele soube ao ser avisado pelos sinais da sua mediocridade e desleixo com a própria existência. Custou algumas marcas, que são impossíveis de ver, ele as sente arder no significante da linguagem simbólica do seu corpo.

Nesse momento percebeu que não haveria palavras que suportasse a imensidão do que transbordava, inundava e dissolvia em si mesmo. A palavra não dava conta, no entanto sabia que ainda era uma possibilidade para dar lugares novos a própria história, mas sob um trabalho árduo, vagaroso e insistente.

O som da voz da analista o avisava:

Ficamos por aqui?

Até a próxima sessão.

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