Desconfio da energia positiva que as pessoas buscam, em
palavras, denunciar em gritos ao mundo. Não que seja de todo ruim, mas a vida é
tão mais simples, caótica e indomável que se torna impossível e insuportável de
sustentar essa eminente ideia utópica de que podemos controlar o que nos
acontece em vida. A obviedade da vida é tão básica que chega a cegar, e acaba
sendo um disparate acreditar que não podemos ter qualquer poder sobre ela. De
modo simples, quando o humano coloca sua mão para modificar em sua literalidade
a natureza, muitas vezes desencadeia um efeito reverso drástico à sua própria existência.
Decido a partir desse barulho que me faz dançar em
movimentos reflexivos, escrever sobre a minha restrita visão e contribuir de
alguma forma com um suposto saber disso que me borbulha à alma. A ideia é a metade
de um todo, visto que não existe um todo-saber, mas uma ideia minúscula do que
pode se tratar. O estilo original como podemos aprender nos escritos freudianos,
lacaniano e essencialmente bioniano, depende da capacidade emocional de cada
sujeito em suportar as adversidades da vida. Não sem um preço altíssimo a ser
pago.
Acredito ser útil declarar que a repetição é única, por ser
um movimento em espiral, e sem ela não somos capazes de transformar a própria
vida, desobstruindo o caminho para que sejamos cada vez mais criativos na experiência
que se desenvolve à nossa frente. Sempre falta alguma experiência, alguns cafés
e muita loucura esquizofrênica para suportar a vida e transformá-la. Essa falta
é constitucional, e se faz necessária para que o impossível seja possível de
colorir.
Muitas vezes é próprio que se beba o café gelado que deixou
esfriar. Não raro, a vida oferece uma experiência repetidas vezes, mas com um
gosto não tão mais agradável, que, no entanto, traz consigo uma visão mais
amadurecida de nós mesmos. Não nascemos com um manual de instrução. É preciso
arregaçar as mangas, e os punhos para quem não tenha mangas, para viver a
própria experiência e dar corpo ao próprio estilo original. Para isso é
fundamental que cada sujeito em vida, seja capaz de acolher sua própria dor,
reconhecendo as próprias ferramentas que possuem para então lançar-se em vida e
apostar tudo em si mesmo.
Além dessa constância, é importante que sejamos tolerantes
e amáveis com as próprias fraquezas, inseguranças e dificuldades, pois ninguém
nasce pronto para aprender a suportar as dificuldades da vida. Não será a
primeira e última vez que cada um de nós, humanos, nos sentiremos como um E.T
frente aos dissabores que surgem, quando se arrisca em apostar tudo e até mesmo
o que não se tem em si mesmo e nos próprios sonhos.
A persistência em trabalhar para desobstruir o caminho,
traz uma fluidez para que a criatividade em fazer melhor com a experiência
ocorra de forma natural, que se torna impossível de descrever em palavras, por
falta de vocabulário. Somente a prática e a tolerância com as inconstâncias da
vida farão com que cada sujeito em vida seja capaz de reconhecer e transformar
o seu próprio estilo de existir.
É atravessado pela capacidade de ser amável com a própria dor
e mazelas que se torna possível intuir e reconhecer a profundeza da experiência
de vida dos outros que compartilham a vida conosco. O amor é a experiência que
nos leva a uma vida possível de ser vivida.
Grande abraço carinho,
Maicon Vijarva
Uau!
ResponderExcluirQue alegria ver que está sempre por aqui.<3
ExcluirTrechos marcantes, verdadeiros. Literalmente me parecem experiência de vida em palavras. Maravilhoso.
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