8.1.19

ENSAIO SOBRE O HORROR E A BELEZA DE SE DESCOBRIR HUMANO


Quando adolescente, Miguel com frequência fantasiava o amor. A sua primeira maior frustração dolorosa, foi sentir que não era possível segurar quem se ama em seu próprio mundo, e pior ainda, o alívio de não pertencer ao mundo do outro parecia tão frágil que acabava por vezes caindo de joelhos dominado pelo sabor agridoce da sedução de quem endereçava seu amor, ameaçando a sua própria singularidade e o vínculo ali estabelecido. 

Desde garoto sentia-se à margem dos grupos sociais daquela época, não tão distante deste presente. Admirava as bandas ABA, The Police, Prince, Michel Jackson, Queen, Pink Floyd, Madonna e tantos outros artistas que expressavam um desejo de descolamento da realidade possível de fantasiar um mundo outro que pudesse ancorar sua dor e sofrimento em existir. 

A rebeldia queimava seus olhos de desespero por não poder controlar o sentimento de amor que expandia sem limite e denunciava mais de sua falta. Sentia raiva e ódio pelas barreiras que impunham sobre a maneira de como desbravava a si mesmo e ao seu redor. Os erros e as frustrações transformados em lagrimas desobstruíram sua visão. Neste momento descobriu que quem mais impedia o seu crescimento era quem menos esperava, embora sentia no fundo do peito certa dedução a respeito: era ele mesmo. 

Tudo se tornou um pouco menos caótico, mas não mesmo doloroso e angustiante. Acolher e se responsabilizar pelo saber que se revelou e se fez tão verdadeiro, custava grandes perdas, e ele pouco sabia da dimensão da perda, embora tão jovem já tivesse perdido tanto. A partir desse momento algo mudou em seu interior, passou a se espantar pela vida e pelas experiências que o apresentava cada vez mais sobre sua singularidade, que nunca imaginou que lhe pertencia. 

Foi reconhecendo sua falta e o que acontecia de forma indomável, que Miguel pode entender que o outro é importante para que ele pudesse se perceber humano. Embora, tudo em sua vida não dependeria de ninguém, a não ser a ética com o seu desejo. 

Abraços,
Maicon Jesus Vijarva

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