Na relação da construção de laços afetivos consigo mesmo e, consequentemente, com o outro necessitam de um pouco mais de calma, paciência. Mesmo que a vida não pare. O tempo vive a acelerar, mesmo que debrucemos em carne, osso e pele para que a vida seja um pouco menos caótica, ou pouco mais leve. Lenine em sua letra-canção diz: um pouco mais de paciente, um pouco mais de alma...a vida não para, a vida é tão rara.
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência, ainda acrescenta Lenine. O corpo vive nos pedindo uma conciliação com a alma [ um dos nomes do Inconsciente]. Não é nada fácil sustentar uma vida, ela é rara e singular à cada sujeito, mesmo que partilhada em alguns momentos de existência.
Os laços mais difíceis e trabalhosos são os que não podem ser rompidos sem deixar um rasgo e uma ferida que jamais poderá ser cicatrizada por completo. Lembro-me numa visita a um hospital, em que me vestia de jaleco branco com cara pintada e nariz de palhaço, fiz um homem com uma expressão triste, sorrir. Não ganhei um dia ali, mas algo despertou em mim um vazio insuportável.
Não sabia ao certo a razão, eu chorei. Ele vendo algumas lágrimas mancharem minha máscara, disse sorrindo: a vida é muito difícil meu jovem. Eu não sei se vou morrer, mas de alguma forma morro aos poucos nessa solidão que eu mesmo criei para mim. O que fazer quando a vida te coloca à prova para refleti-la de forma nua e crua? Faltavam palavras que pudessem representar a imensidão que aquela experiência me provocava. Ainda sinto ela a cada experiência com meus pacientes.
A vida é uma incerteza, e não há culpados, mas é preciso se responsabilizar pelo que fica, pelo que resta do resto de uma experiência. A minha atitude foi colher o seu sofrimento pela escuta, que naquela época com 15-16 anos, sequer sabia alguma coisa da vida, ou que essa atitude teria algum efeito ou mais ainda, que me esbarraria com a Psicanálise no caminhar do meu percurso.
David Levisky em seu Livro A vida?... É logo ali,Editora Blucher, implica ao escrever: a paciência, a observação e o tempo colaboram para que um e outro descubram a linguagem da relação que poderá ou não ser transformada em códigos sociais de comunicação. A espera de que eles nos compreendam conflita com a nossa incompreensão do que eles necessitam. Isso é desesperador e faz parte do processo de desenvolvimento. Querer alterar o processo é violentar a si e ao outro.
Escrever é um ato de coragem e amadurecimento dos próprios defeitos e qualidades.
Texto: Maicon Jesus Vijarva
Imagem: @gertscheerlinck