Um dia, cedo ou tarde, as coisas
vão clareando e torna-se possível testemunhar no real que a liberdade cerceada
não é determinada pelo outro, mas pelo próprio sujeito. Os muros que se
levantam em nosso redor, nascem na vã tentativa de proteger. Quem se deseja
proteger? O outro de nós mesmos, ou nós de nós mesmos?
Não existem culpados, talvez a
aposta seja na crítica interna arrasadora e os preconceitos pessoais. Arrisco. Podemos
colocar também nessa conta, os responsáveis não identificáveis. É muito fácil responsabilizar o mundo externo,
mas em que pé fica a responsabilidade do mundo interno?
É constrangedor aguçar a escuta
para ouvir as próprias questões íntimas e publicar a estranheza desconhecida
[tão bem conhecida e reprimida] de nós mesmos. Deste lugar desconhecido que
brota os equívocos entre o saber e o ser. A vida bem como a experiência da
dupla analítica se manifesta de forma marcante e tomam dimensões na qual
torna-se impossível ser transcritas ou verbalizadas pela palavra com clareza.
O conhecimento é uma ponte e não
uma experiência: só podemos pensar sobre alguma coisa que já passou. Diferente disso,
a cabeça será apenas uma máquina de moer e triturar pensamentos, sentimentos e
lembranças atrapalhadas. Todo esse caos oferece um desmoronamento psíquico perturbador e imagens distorcidas de si mesmo de forma horrenda no real.
A-colher essa estranheza
desconhecida produz uma capacidade de maturidade emocional para fazer melhor na
experiência com os acasos e surpresas da vida. No contato com o seu pior, o
sujeito reúne energia psíquica necessária para vencer as resistências pessoais,
do silêncio da negação, dos tabus, censuras, segredos, medos e isolamento causados
pelos muros erguidos por ele mesmo em sua volta.
A experiência com a psicanálise
oferece ao ser humano o retorno para o contato e abertura do seu mundo interno para si mesmo e,
consequentemente, para os outros, dissipando o caos e oferecendo a si o tempo necessário para sofrer e ser transformado pelos efeitos desse lugar. Só se pode
aprender a lidar com as dificuldades do cotidiano quando se reconhece a importância
de viver o sofrimento e a dor da perda.
Excelente texto! De uma sensibilidade e análise profunda do ser, na sua essência e no seu verdadeiro "eu", que se esconde e se camufla nos mais emaranhados arcabouços da mente humana.
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