14.11.18

A LIBERDADE CERCEADA



Um dia, cedo ou tarde, as coisas vão clareando e torna-se possível testemunhar no real que a liberdade cerceada não é determinada pelo outro, mas pelo próprio sujeito. Os muros que se levantam em nosso redor, nascem na vã tentativa de proteger. Quem se deseja proteger? O outro de nós mesmos, ou nós de nós mesmos?

Não existem culpados, talvez a aposta seja na crítica interna arrasadora e os preconceitos pessoais. Arrisco. Podemos colocar também nessa conta, os responsáveis não identificáveis.  É muito fácil responsabilizar o mundo externo, mas em que pé fica a responsabilidade do mundo interno?

É constrangedor aguçar a escuta para ouvir as próprias questões íntimas e publicar a estranheza desconhecida [tão bem conhecida e reprimida] de nós mesmos. Deste lugar desconhecido que brota os equívocos entre o saber e o ser. A vida bem como a experiência da dupla analítica se manifesta de forma marcante e tomam dimensões na qual torna-se impossível ser transcritas ou verbalizadas pela palavra com clareza.

O conhecimento é uma ponte e não uma experiência: só podemos pensar sobre alguma coisa que já passou. Diferente disso, a cabeça será apenas uma máquina de moer e triturar pensamentos, sentimentos e lembranças atrapalhadas. Todo esse caos oferece um desmoronamento psíquico perturbador e imagens distorcidas de si mesmo de forma horrenda no real.

A-colher essa estranheza desconhecida produz uma capacidade de maturidade emocional para fazer melhor na experiência com os acasos e surpresas da vida. No contato com o seu pior, o sujeito reúne energia psíquica necessária para vencer as resistências pessoais, do silêncio da negação, dos tabus, censuras, segredos, medos e isolamento causados pelos muros erguidos por ele mesmo em sua volta.

A experiência com a psicanálise oferece ao ser humano o retorno para o contato e abertura do seu mundo interno para si mesmo e, consequentemente, para os outros, dissipando o caos e oferecendo a si o tempo necessário para sofrer e ser transformado pelos efeitos desse lugar. Só se pode aprender a lidar com as dificuldades do cotidiano quando se reconhece a importância de viver o sofrimento e a dor da perda.

Abraços, 
Maicon Vijarva 

Um comentário:

  1. Excelente texto! De uma sensibilidade e análise profunda do ser, na sua essência e no seu verdadeiro "eu", que se esconde e se camufla nos mais emaranhados arcabouços da mente humana.

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