31.8.16

A MARCA DA MÃE: O DESAMPARO E O AMOR SEQUESTRADO


A trajetória de nós seres humanos, não é simplificada, justamente por oferecer um caminho de infinitas possibilidades, com conservas culturais e zonas de conforto idealizadas pela própria sociedade, que ofusca à visão do indivíduo frente a si mesmo, no enfrentamento de suas próprias adversidades.
Metaforicamente, o desamparo é um amor sequestrado, que leva o indivíduo às angústias vinculadas à perda do seio materno, que faz alusão ao luto, numa textura de cor escura, preta como a depressão grave e branco como os estados de vazio. O que conduz a refletir a respeito, que o desmame precisa ser contemporâneo à apreensão da figura materna quanto objeto total e implica que o processo de desligamento do cordão umbilical simbólico, entre a criança e a figura materna tenha se realizado de forma saudável.
A separação saudável deve dar lugar à criação de uma mediação para paliar os efeitos traumáticos da ausência e elaborar a integração no interior do ego da criança. Essa mediação constitui subjetivamente o quadro materno como estrutura enquadrante, em outras palavras, a imaginação da criança simboliza a figura materna internamente, possibilitando lidar com o mundo externo.
 A partir dessa agudeza, quando o processo de rompimento, que deveria ocorrer naturalmente no tempo em que a criança se sentisse suficientemente acolhida, segura e confiante para buscar novos objetos de interesse, torna-se uma passagem incompreensível e traumática, levando à criança a eliminar a figura materna que estava em processo de simbolização, introjetando uma mãe morta à sua vida psíquica.
Na perspectiva de Green (1988), o afastamento e falta de interesse materno, surge uma perda de sentido que regerá a criança a assumir medidas drásticas, como desenvolver indiferença ante o mundo externo e identificação inconsciente com a mãe melancólica, desenergizada. A estrutura do complexo de mãe morta nos revela uma característica do funcionamento psíquico, quando o retrato interno que estrutura o narcisismo – partindo da gradativa separação materna – não se manifesta, pela ausência da mãe, a vida psíquica se transforma em uma lacuna, vazio impreenchível.
O que fortalece a reflexão de que a ausência de composição de um pano de fundo que suporte as representações e simbolizações abandona a criança à mercê de um mundo constituído de objetos internos peculiares e sem vida que não podem se vincular entre si e preencher o seu mundo afetivo. Nas palavras de Simon (1933, p.73):
“Conforme mudam as relações do objeto, mudam os conteúdos da angústia e mudam os mecanismos de defesa. É claro que, entre todas as condições, é a capacidade do ego de tolerar angústia que vai determinar sua possibilidade de estabelecer relações com o objeto total” (SIMON, 1933, p.73).

Diante dessas premissas, percebe-se que desde o nascimento até o segundo terço do primeiro ano de vida, a libido (interesse) da criança se concentra quase que exclusivamente na figura materna. No entanto, as consequências da ausência do vínculo da figura paterna são tão mais graves quanto à ausência da figura materna.
Das contribuições de Martino (2012, p. 66):
A presença do pai, a princípio, se faz importante enquanto ideia no interno da figura materna, entretanto essa experiência simbólica carece do encontro com o “outro real”. Não se pode criar uma imagem interna sem um representante no mundo externo (MARTINO, 2012, p. 66).

Na clínica, o indivíduo poderá reviver esse complexo de mãe morta, na tentativa de reorganizar o seu mundo interno. Para isso, é importante que o analista seja continente, vivo e atento à dor interna que o paciente traz. Entende-se que um analista morto que não é capaz de ser continente também não será capaz de receber conteúdo algum trazido pelo analisando. Acolher o conteúdo coincide com receber a demanda do que no real compete ser ensinado, para levar a idealização fragilizada com a mãe morta, para uma compreensão simbólica de uma mãe que, dentro da sua capacidade, pode proporcionar certa afetividade, por mínimo que tenha sido (MARTINO, 2011).
A psicanálise, norteadora da reflexão até nesta ocasião, não oferece uma resposta finda, mas encoraja o pensar, que é primordial, para que o analista não se torne um analista morto: “por mais tentado que possa se sentir o analista a se tornar o educador, o modelo e o ideal de seus pacientes, qualquer que seja o desejo que tenha de moldá-los à sua imagem, ele precisa lembrar-se de que esse não é o objetivo que procura atingir na análise e até de que fracassará em sua tarefa entregando-se a essa tendência” (ZIMERMAN, 2004, p.86).
Por mais que as técnicas e métodos de intervenção sejam eficazes, nada pode sobrepujar o contato de uma alma humana com outra alma humana (JUNG, 1961-1975). O que nos revela que não basta dominar as técnicas se não existir a “presença sensível” do terapeuta: estar atento ao que acontece nas sessões e corroborar com o cuidado para que a genealogia criativa de cada paciente se estenda. O que a psicanálise se propõe em análise é privilegiar a singularidade de cada analisando e o pundonor de seu sofrimento.
Torna-se propício volver ao conceito de Klein (1957-1974) a respeito de a importância da presença e, consequentemente, a ausência da mãe na primeira infância. O instante em que a criança deve esperar pela saciedade da fome, pelo “estar acolá” da figura materna e todo o ambiente proporcionado por ela.
Está ausência é o tempo saudável, imprescindível, ecúmeno, e que se fará necessário na configuração analítica. Não se discursa acolá o desamparo, mas as ocasiões adequadas para que o analisando reflita a partir desta ausência. Relembrando ou construindo experiências em que logo, empós certo tempo, possa sentir (recordar) os cuidados da análise e, por fim, simbolizar todo processo analítico.
Simbolizar é remeter-se ao real na ausência deste (KLEIN, 1967-1970). Constitui-se “daquilo que permite estar ligado ao ausente” (MARTINO, 2012, p. 43). Só podemos simbolizar quando estamos suficientemente protegidos, confiantes de que o real volverá para nos acolher. Winnicott (1979-2007, p. 34) acrescenta que “a capacidade de ficar só depende da existência de um objeto bom na realidade psíquica do indivíduo”, caso esse indivíduo tenha identificado com a mãe morta, poderá, na análise, reorganizar esse objeto, dando um novo sentido ao enfrentá-lo e observar com o olhar de reconhecimento.
A perspectiva traz à baila a figura paterna, que se estiver presente e quiser conhecer o próprio filho, esta é, certamente, uma criança de sorte e nas circunstâncias mais felizes o pai enriquece, de maneira abundante, o mundo do próprio filho.
Desta maneira, completamos com Winnicott (1957/[1979], p.130): “quando o pai e a mãe aceitam facilmente a responsabilidade pela existência da criança, o cenário fica montado para um bom lar”.
Este vínculo de afeto, onde afeta e se é afetado pelo outro, pode auxiliar o indivíduo em seu trajeto, no trato de si mesmo. Em concordância de que uma das coisas que a figura paterna suficientemente boa faz pelos filhos é estar vivo e continuar vivo durante os primeiros anos das crianças. O valor desse simples ato é suscetível de ser esquecido. Mas que serão forças pulsantes para que o indivíduo transforme de dependente a um ser independente, capaz de se relacionar consigo mesmo e com o outro.
Embora seja natural que os filhos idealizem seus pais, é também muito valioso, para os primeiros anos, ter a experiência de conviver com eles e de conhecê-los como seres humanos, até o ponto de os descobrirem.
Como percebemos, a criança traz angústia das quais, a mãe, mesmo abalada pela situação, deve velá-lo. O pai suficientemente bom, por sua vez, sente e participa da mesma dor, que inunda esse complexo processo, tentando elaborar os sentimentos invejosos gerados pela atenção da companheira, que se desloca dele para criança.
O indivíduo quando desinvestido motiva uma ferida interna, um buraco afetivo na relação com a figura materna e se repetirá, posteriormente, na incapacidade do sujeito de estabelecer e sustentar vínculos afetivos satisfatórios. Mas a psicanálise traz a possibilidade de repensar esse vínculo, dando possibilidade de pensá-lo e reorganizá-lo junto com o analista, para que o analisando possa energizar sua alma e reconhecer as novas formas de viver com essa dor interna.
Assim para que uma mãe não se torne uma mãe morta, será necessário que a figura paterna se faça um ambiente suficientemente bom, vivo, amando e confortando todos os medos e frustrações da mãe no cuidado com o bebê. Só assim, poderá se fazer um lar adequado para que a criança desenvolva toda sua potencialidade, tornando um adulto com um inconsciente mais próximo a realização.
A psicanálise propõe trazer à consciência aquilo que reprimimos, ou seja, tudo aquilo que nos traz incômodo e desprazeres (FREUD, 1917-1920/2010). Mas não se trata de masoquismo, e sim de uma maturidade emocional necessária à elaboração dos conflitos mais íntimos de nosso ser.
 É preciso capacidade e coragem de sofrer e entristecer-se para pôr fim transformar conteúdos vazios de significado em conteúdos que nos ajudem a suportar a falta de nossa satisfação, uma vez que, nem sempre nossos desejos serão realizados.
Por um caminho de amor, pelo afeto, cuidado e sensibilidade à vida, podemos amadurecer de forma segura, ainda que com angústias, a título de encontrarmos quem verdadeiramente constituímos e aprendermos a valorizar e reconhecer nossa subjetividade.


20.8.16

AMOR, DESEJO E SUJEITO


Tu perguntas se deves, 
Digo, o que te impede?

Dava-se ao amor como dava-se ao ódio, 
Estimo não ser inverossímil nada do que dizem

a respeito do amor e ódio.

Amar e ódio são como lanterna mágica, 
alimentam os fantasmas da nossa alma, 
os dando cor.

Dizem que amar é para os fortes, 
mas temo tal especulação.

Os grandes escritores que falam sobre amor, 
são frágeis, mas corajosos.

O que motiva o amor, não é a força, 
mas a coragem de se despir, 
desabitar, permitir-se ser habitat do novo,
do Outro.

Já disse Goethe:
O que seria o mundo para nosso coração,
sem amor? 
O mesmo que uma lanterna mágica, 
sem luz,
Efêmero!

Não seja medíocre com o seu amor, 
Invista tudo, mergulhe.

7.8.16

MANEJO DO CIÚME: INVEJA E GRATIDÃO


O ciúme é um importante sentimento para o indivíduo em sua tenra infância, e tem uma atribuição respeitável para psicanálise, nos primórdios do desenvolvimento do sujeito. O que nos revela que sua configuração e efeitos no sujeito dependem da estrutura que o sustenta. O ciúme tem a característica de ser um estado emocional por despertar a percepção de uma possível ameaça a um vínculo ou posição de valor, que produz comportamento que se dispõe a liquidar com essa ameaça.
A partir desta perspectiva, percebemos que dentre as emoções humanas, o ciúme é um sentimento comum e deveras importante no desenvolvimento do indivíduo e entre os tipos de ciúme, o patológico é um sentimento que tem despertado uma visibilidade de grande proporção e que mereça uma maior atenção em seu manejo na contemporaneidade.
A motivação que gera o comportamento ciumento nasce das relações de junções tríade:  pensamentos, emoções e ações, movido por um objeto ameaçador ou a particularidade do vínculo com esse objeto desejado e invejado. O indivíduo enciumado age no intuito de preservar a si mesmo, a partir da castração do objeto desejado e invejado em que está veiculado. Pode-se dizer que o sujeito-ciumento-invejoso não podendo se tornar o objeto desejado, tende a destruí-lo parcialmente, para que esse objeto-desejado não seja capaz de se sustentar sem sua presença. 
Como podemos perceber, o ciúme se configura de variadas formas. Por ser uma manifestação afetiva muito comum, traz consigo uma dificuldade na compreensão de sua configuração entre ciúme clássico e patológico.
Para melhor esclarecimento, a diferença entre o ciúme clássico e o patológico é simples. O primeiro se refere a busca do sujeito em preservar os vínculos, já no segundo, se refere a busca do sujeito em satisfazer a si mesmo, na tentativa de aniquilar o desejo do outro: apenas o indivíduo enciumado que pode ser desejado e ter o seu desejo realizado. É desta forma, que cria em sua mente, um enredo para justificar externamente as suas frustrações e preocupações com a possível perda do objeto desejado.
Entende-se o ciúme, no senso comum, como uma disposição de domínio, emaranhado com o outro, no outro. Mas, de acordo com nossas reflexões de ciúme, podemos notar que essa classificação se encaixa melhor na posição de ciúme patológico. Devido a vontade de possuir, a ausência de confiança, identificação com o melancólico. Essas características dificultam a relação conjugal ou relação com outras pessoas da sociedade.
É interessante citar aqui, o escritor e psicanalista contemporâneo Green (1988), que descreve essa figura materna como ausente e propulsora das identificações do sujeito com o melancólico, com a dificuldade de elaboração de frustrações, na problemática em se relacionar com o outro ou de percebê-lo como sujeito subjetivo, imponderado de um outro universo além do sujeito de ciúme patológico.   
O universo do indivíduo ciumento não consegue ser capaz de distinguir imaginação, fantasia e realidade. Tudo se mistura, sem espaço para percepção consciente. No entanto, quando ocorre essa percepção consciente, o ciumento de grau patológico nega e se retraí, na tentativa de buscar formas para se reestruturar internamente. O que o ciumento patológico procura é o controle total dos sentimentos, da atenção e do comportamento do outro.
No ponto de vista de Lacan (1988) o desejo do homem encontra seu sentido no desejo do outro, não tanto porque o outro detenha as chaves do objeto desejado, mas porque seu primeiro objeto (do desejo do homem) é ser reconhecido pelo outro. Se o ciumento patológico não conseguir ser reconhecido por ser o que é, o fará de forma forçada, na tentativa de se impor como sujeito a ser desejado por aquele em que ele projetou seu desejo.
Para Melanie Klein (1957), define a inveja e a distingue da voracidade e ciúme através da ação dos diversos mecanismos de defesa e das relações de objeto. Na gratidão a autora descreve ser um sentimento impulsionador do desejo de retribuir a satisfação (o seio materno, fonte de prazer) conseguida e leva à separação, permitindo também as sublimações.   
Se entendemos que o ciúmes clássico é uma forma de sentir ameaçado por investidas externas, e que essa ameaça impulsiona o sujeito ciumento a nutrir o vínculo na intenção de preservar. Na inveja excessiva intrínseca no sujeito ciumento patológico, leva, habitualmente, à dissociação das partes consideradas más, com as consequentes divisões que sofre o ego, podendo causar mesmo verdadeira fragmentação. No inverso, a integração inesperada dos aspectos invejosos desconexos pode ter como consequência a manifestação de crises psicóticas, que são respeitáveis no discurso do tratamento psicanalítico.
De fato, dentro da perspectiva psicanalítica, é difícil vencer certos pontos cruciais dos laços vivenciados, representado pelo aproveitamento e melhoras reais obtidas pelo sujeito dentro do vínculo, pois este, devido à excessiva inveja que sente do par amoroso, se desfaz logo do alívio e das melhoras alcançadas.  
Em Melanie Klein (1957), com a regressão e a piora que a seguir se instala, não só diminui sua inveja como também expia a culpa correspondente. Na dupla amorosa, o sujeito ciumento-invejoso sentirá extrema dificuldade em sentir satisfeito com sua posição positiva dentro da relação. De sorte, para evitar a inveja do par amoroso, os progressos realizados, para serem bem aceitos, devem ser lentos e graduais. É aqui que a análise entra, na tentativa de levar o sujeito ciumento-invejoso a busca de reconhecer a sua condição de invejoso, para futuramente, de forma gradual, reconhecer a gratidão que venha a se instalar. Levando em conta, ser uma tarefa muito difícil aceitar o alívio, felicidade e bem-estar porque está implícita a necessidade de poder expressar gratidão.
A gratidão, inveja e ciúme são sentimentos difíceis de elaboração e, ainda mais, de serem identificados e compreendidos em nós mesmos, de maneira especial quando considerados em sua grandeza, significação e profundez exatas.
Para Melanie Klein (1957), mesmo a gratidão – que é baseada em sentimentos amorosos – é com facilidade confundida com o que se nomeia de “falsa gratidão”. Esta, ao invés de estar ligada à confiança e aceitação do bom objeto, bem como do reconhecimento do que dele se recebeu e à necessidade de retribuir a gratificação obtida, é primariamente um procedimento que tenta manter controlado o objeto, considerado perseguidor, através do seu aplacamento por meio de conduta aparentemente adequada e oferendas.
De tal modo, talvez o fato que acabara de ser mencionado pode se fundar em um exemplo das robustas resistências em focalizar este tema emocionalmente tão envolvente para todos, tanto para o sujeito ciumento como para o par amoroso.
Podemos utiliza de uma fábula para elucidar o funcionamento da psique daquele que vivencia veementemente o sentimento de inveja, aqui no caso o ciumento patológico.  A fábula narra a história de certa ocasião, em que um homem extremamente invejoso de seu vizinho, recebe a visita de uma fada, que lhe dá a possibilidade de realizar um único desejo, então disse a fada ao homem: peça o que desejar, desde que seu vizinho receba em dobro. O invejoso em seguida respondeu, quero que lhe arranque um olho.
A moral da fábula é nítida, o prazer do ser humano em ver o seu próximo se prejudicar prevalece sobre qualquer desejo de benefício pessoal, embora seja uma satisfação pessoal de ver o outro sofrer. Não é preciso ir muito longe, na perspectiva do pensar, para chegar à conclusão da psicanalista Klein (1974) de que a inveja é uma característica poderosíssima na erosão das raízes do sentimento de amor e gratidão, de modo a afetar a relação mais ancestral de todas, a relação com a figura materna. A veridicidade radical da manifestação da inveja é o seu impulso destrutivo, por levar o sujeito a incidir e destruir o objeto bom, cujo a introjeção é o alicerce do funcionamento psíquico. Esse afeto, por nem sempre ser consciente, inibe a assimilação de experiências boas e, deste modo, a possibilidade de integração com a psique.
De acordo com a autora, a inveja não é produto da decepção ou frustração, ela é parte da vida psíquica do sujeito desde a tenra infância independente das atitudes da figura materna e do seu ambiente oferecido. Pelo adverso, a inveja emana do próprio sujeito, sendo sentimento endógeno. Em contrapartida, para Winnicott (1971), a inveja é fator secundário, proveniente de uma falha na elaboração do ambiente, sendo a relação mãe-bebê fator primordial para acolher o sentimento de inveja da criança, contribuindo para uma boa resiliência do sentimento de inveja.
 Para Martino (2015), o medo de perder é filho do desejo de posse. O que nos revela que o sujeito enciumado só aprenderá a reconhecer a realidade somente depois de experimentar a sensação de que essa realidade é uma extensão de seu desejo. Freud (1821) traz uma realidade interessante: “se nós mesmos não podemos ser os favoritos, pelo menos ninguém mais o será”, “só ama o outro quem ama a si mesmo; só ama a si mesmo quem foi amado pelo outro”. Em outras palavras, o sujeito enciumado inseguro de si mesmo troca aquela coisa que mais tem habilidade por aquilo de que não é capaz.
Tal reflexão faz alusão ao pensamento de Bion (1967) em que traz a proposta de realidade última, que depende funcionalmente da capacidade de tolerar frustrações. Para o intolerante (o ciumento), é melhor não ver, não saber. Essa tolerância só é obtida em dois momentos, no primário, com a figura materna e no secundário, com a figura analista. A primeira tende a ser menos árdua que a segunda, por tratar-se de uma demanda interna maior, para elaboração do sujeito.