5.10.19

DE LONGE PARECE CERTO

Quando + próximo fica parece tão errado, você de longe parece tão certo. Você é cilada certa para meus pecados, o antídoto necessário para meu sintoma: amor. Algo em você denuncia caminhos possíveis para meu pior. Por amar o que não sei de ti, faço da dureza da vida tão-somente ponte, a passagem necessária para polir e desgrudar os excessos que me cegam e me mistura em ti.

De boas intenções transformei nossos corpos templo de rituais de mal-entendidos, de mal-dizeres e de uma vida sem palavra. A esperança não era você, era do amor que inventei em ti que me ajudava fantasiar o impossível e aprender a costurar os restos de cada encontro e desencontro das palavras, dos não ditos e dos nós de nós que hoje se transformaram em laços.

Amor você cortou as minhas asas, não me deixou ficar. Te amo pelas azas [z de azar mesmo] cortas, por fazeres de mim um anjo caído. Fim que fez furos, rasgos na brisa das certezas. Hoje respiro outros ares. Desaprendi o apreendido, aprendendo a voar com os pés no chão, mesmo que esse chão você também o tenha levado.

A vida de colisões de [des]encontros me atualizam, ando atormentado em saber mais de mim atravessado desses Outros, mesmo que esse saber escape e seja sempre não-todo. Prometi voltar para teus braços, mas hoje não posso mais ser oferenda, hoje já não posso ceder as tuas demandas, hoje ofereço-me por inteiro ao encontro, advertido que jamais existira completude.

A falta é meu calcanhar de aquiles. Pode me faltar tudo, só não me deixe faltar na minha falta. Queria te falar te amo quando terminamos, tê-lo em meus braços nunca foi um querer. A vida parece labirinto com infinitas armadilhas, se eu me perder me deixe encontrar caminhos novos por mim mesmo. O que procuramos em nós, não podemos nos dar.

Que eu ame sempre o que falta em ti, e crie maneiras novas de amar esse teu jeito tão singular de ser. Não sejamos nunca o efeito de 1/3 de bala, sejamos trem que por onde passa faz barulho e deixa rastros e restos de esperança que a vida é passagem, é cheiro de um passado que exige um toque de nos presentearmos com o agora.

É que parecia certo de longe, porque não existíamos. A vida é a possibilidade de amar o nosso caos, fazer desse perto a invenções, e deixar cair esse certo de longe, só é possível existir de perto. O resto é só imagem, e somos sempre mais que um corpo, somos palavra-linguagem.

Maicon Jesus Vijarva

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