16.7.18

A PERDA DO OBJETO ELEITO: O AMADO


A perda do objeto de amor eleito pelo sujeito instaura uma ruptura que levará consigo por todo seu percurso. O vazio leva o sujeito à deriva, e por sua vez o ego rejeita a frustração de não mais sentir as bordas que o protegem da insegurança de se estar à mercê das investidas da vida sobre sua existência, colando-se nas lembranças da imagem do que partiu.

As forças inconscientes implicam o sujeito à repetição, é por isso que o sujeito para amenizar o desconforto que a perda do objeto de amor instaura procura em novos laços o estilo do velho amor: fragrância, traços, palavras, características e, sem dúvida, o que mais acreditava odiar no objeto de amor, que não mais poderão ser sentidas como antes, mesmo que volte a estar junto com o mesmo objeto.

A devastação da perda deixa o rastro do desamparo e amor sequestrado pelo outro: o amado. O ego cheio de insatisfação advinda da frustração da perda investe na ilusão de redesenhar no tempo-fotografia capturado a vida vivida com o objeto perdido numa espiral de repetições até fazer-saber sobre sua capacidade de reconhecer a responsabilidade diante do fim.

A dinâmica do amor é espantosa, se antes pensava-se no objeto de amor com certa frequência, com a perde o amor acentua mais ainda sua posição-memória sobre o sujeito amante. A vida poderá existir milhares que ofereçam o seu amor para esse sujeito amante, mas ainda estará à mercê dos resquícios-efeitos das lavas vulcânicas do amor pelo objeto amado.

Os lapsos de memória recaem sobre o sujeito com o peso da tonelada de uma pena, alucinando sentir o perfume, a voz, ou a imagem do amado entre a multidão. O ego se entristece e navega num oceano depressivo de reflexões à cerca das recordações da história interrompida, da graça não mais retribuída, das gargalhadas e sorrisos não mais visíveis aos seus olhos.

As implicações desses amores interrompidos são sentidos na composição do corpo-memória da personalidade do sujeito amante, que o marcam como uma cola impossível de desgrudar da alma, convulsionando lembranças de um sentir impalpável, mas que ocupa boa parte do sua existência psíquica.

Na ilusão de saber sobre o amor, o sujeito ignora o seu avesso, que sempre instaura um sofrimento doloroso. Quando se ama não se sabe quanto tempo se tem para amar e ser amado. O amor é indomável, talvez por isso cause tanto horror e espanto no ser humano que deseja categorizar o amor através de um nome, uma posição, um caminho e/ou um método para amar de forma correta.

O tempo não para mesmo que a perda emperre o ego de continuar o seu frenético percurso. O relógio continua a desenhar a passagem do tempo convocando o sujeito a pensar, elaborar e reconhecer que é tempo de reorganização. É trabalhoso o processo de inventar um novo ambiente no espaço vazio deixado pelo amado-eleito, exige responsabilidade em ser criativo na dinâmica de dividir o tempo para cada novo projeto de vida sem o amado.

A elaboração da perda oferece o sentimento de gratidão [mesmo que dolorosa] pela história vida, transformando a culpa em reconhecimento, a dor se decompõe para nascer o sentimento de saudade que implica o sujeito a fazer-melhor-com-seu-sofrimento.

É necessário que o sujeito possa sentir o processo doloroso que a perda amorosa ou qualquer outra origem ocupe em sua vida, para que na idade do envelhecimento do corpo a psique não atormente-o com memórias que foram engolidas a seco em nome de um equilíbrio-social-emocional.

Abraço,
Maicon Vijarva

14.7.18

DUVIDAR DO ÓBVIO




Tornar-se analista está muito mais ligado a ordem da própria experiência no lugar de analisante. Lugar esse tão importante para o sujeito desejante por sustentar esse lugar independente da adversidade que pode e irá ocorrer.

A experiência da análise e da dupla analítica pode possibilitar ao sujeito analisante ser tocado pelo horror e beleza que constitui o ser humano, e a partir desse tocar se interessar em assumir um lugar outro tão mais angustiante do que estar no lugar de analisante.

Ser analista não é uma posição que pode ser alcançada por qualquer um, ela demanda uma autorização do próprio sujeito diante da sua própria análise e cuidado de si mesmo. Por isso que o analista precisa duvidar do óbvio que está no discurso do analisante, e essa escuta apurada e cuidadosa só pode ser alcançada pela experiência analítica na posição de analisante.

Portanto para aprender o sentido do não sentido da psicanálise, faz-se necessário ingressar no angustiante processo da experiência analítica.

É POSSÍVEL AGREGAR MAIS DE UMA ABORDAGEM NA CLÍNICA?


O sujeito só pode seguir um caminho, por demandar dele certo tempo e investimento para sustentar tal percurso desejado. Não é qualquer um que se submete ao processo de análise, por isso é importante que aquele que deseja ocupar o lugar de analista possa estar avisado e orientado de sua função frente ao sujeito que o procura.

A experiência da análise oferece ao olhar do analisante a possibilidade de um horizonte de opções, podendo ele determinar qual caminho não faz sentido a ele, abraçar todos os caminhos só emperrará mais ainda a sua vida. Partindo dessa lógica, o sentido é que fica inviável submeter a dupla analítica a mais de um método, visto que uma hora ou outra o impasse das abordagem irá colidir uma a outra inviabilizando o ato analítico.

O sujeito precisa de acolhimento, de um analista que leve as últimas consequências a sua análise pessoal e seus estudos teóricos, para que não precise utilizar de maneira equivocada vários métodos para dar conta da demanda do outro.

Em suma, utilizar-se de várias abordagem é de certa forma sustentar e se moldar a todo custo a demanda do outro, o que bem sabemos ser impossível.