A
perda do objeto de amor eleito pelo sujeito instaura uma ruptura que levará
consigo por todo seu percurso. O vazio leva o sujeito à deriva, e por sua vez o
ego rejeita a frustração de não mais sentir as bordas que o protegem da
insegurança de se estar à mercê das investidas da vida sobre sua existência,
colando-se nas lembranças da imagem do que partiu.
As
forças inconscientes implicam o sujeito à repetição, é por isso que o sujeito
para amenizar o desconforto que a perda do objeto de amor instaura procura em
novos laços o estilo do velho amor: fragrância, traços, palavras, características
e, sem dúvida, o que mais acreditava odiar no objeto de amor, que não mais
poderão ser sentidas como antes, mesmo que volte a estar junto com o mesmo
objeto.
A
devastação da perda deixa o rastro do desamparo e amor sequestrado pelo outro:
o amado. O ego cheio de insatisfação advinda da frustração da perda investe na
ilusão de redesenhar no tempo-fotografia capturado a vida vivida com o objeto
perdido numa espiral de repetições até fazer-saber sobre sua capacidade de
reconhecer a responsabilidade diante do fim.
A
dinâmica do amor é espantosa, se antes pensava-se no objeto de amor com certa
frequência, com a perde o amor acentua mais ainda sua posição-memória sobre o
sujeito amante. A vida poderá existir milhares que ofereçam o seu amor para
esse sujeito amante, mas ainda estará à mercê dos resquícios-efeitos das lavas
vulcânicas do amor pelo objeto amado.
Os
lapsos de memória recaem sobre o sujeito com o peso da tonelada de uma pena,
alucinando sentir o perfume, a voz, ou a imagem do amado entre a multidão. O
ego se entristece e navega num oceano depressivo de reflexões à cerca das recordações
da história interrompida, da graça não mais retribuída, das gargalhadas e
sorrisos não mais visíveis aos seus olhos.
As
implicações desses amores interrompidos são sentidos na composição do
corpo-memória da personalidade do sujeito amante, que o marcam como uma cola
impossível de desgrudar da alma, convulsionando lembranças de um sentir
impalpável, mas que ocupa boa parte do sua existência psíquica.
Na
ilusão de saber sobre o amor, o sujeito ignora o seu avesso, que sempre
instaura um sofrimento doloroso. Quando se ama não se sabe quanto tempo se tem
para amar e ser amado. O amor é indomável, talvez por isso cause tanto horror e
espanto no ser humano que deseja categorizar o amor através de um nome, uma
posição, um caminho e/ou um método para amar de forma correta.
O
tempo não para mesmo que a perda emperre o ego de continuar o seu frenético
percurso. O relógio continua a desenhar a passagem do tempo convocando o
sujeito a pensar, elaborar e reconhecer que é tempo de reorganização. É
trabalhoso o processo de inventar um novo ambiente no espaço vazio deixado pelo
amado-eleito, exige responsabilidade em ser criativo na dinâmica de dividir o
tempo para cada novo projeto de vida sem o amado.
A
elaboração da perda oferece o sentimento de gratidão [mesmo que dolorosa] pela
história vida, transformando a culpa em reconhecimento, a dor se decompõe para
nascer o sentimento de saudade que implica o sujeito a
fazer-melhor-com-seu-sofrimento.
É
necessário que o sujeito possa sentir o processo doloroso que a perda amorosa
ou qualquer outra origem ocupe em sua vida, para que na idade do envelhecimento
do corpo a psique não atormente-o com memórias que foram engolidas a seco em
nome de um equilíbrio-social-emocional.
Abraço,
Maicon Vijarva
Abraço,
Maicon Vijarva
Gosto muito!
ResponderExcluirDo texto, do autor...
Este texto me acalmou. Estou vivendo este momento de " perda",mas tarde de ganhos...
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