Em análise, o desejo está em frenética
conexão com o que não funciona, paralisa e insiste em comparecer no real pelo
avesso. Em sua espiral sonoro da experiência, a psicanálise revela tudo que a
sociedade incuba na exposição do humano que valoriza como ideal: puro, divino e
perfeito.
O caminho da psicanálise implica
o sujeito a responsabilização por seu estilo no mundo, atravessado pelo
não-todo-saber que se inaugura no sintoma. Não à toa que a psicanálise não é
para todos, por implicar o sujeito a arriscar tudo em sua subjetividade,
alterando rotas e pensando com ética as prioridades da sua vida.
Para construir o percurso na
análise é necessário abrir mão do lugar de ser desejado, da bengala da
demanda do outro. Recusar a posição narcísica para assumir o seu inverso, que convoca
o eu ao comprometimento, ousadia e coragem à responsabilização por sua existência
no mundo. Esse movimento leva o sujeito a produzir conteúdo em análise, para
criar um saber sobre o que estrutura o seu sintoma.
Além disso, todo esse avesso que
se apresenta instaura um novo sujeito com autonomia ao que lhe causa, inspira e
fracassa. O trabalho em análise conduz à incompletude do horizonte, na ousadia
e coragem em apostar todas as fichas em si mesmo, sem recursar em pagar o preço
necessário para sustentar suas escolhas e decisões em constante maturação
frente às novas possibilidades em que o seu desejo aponta.
Aprender a transformar as oscilações
do sintoma que emperra o analisante a caminhar em seu percurso, exige questionamentos
sobre o lado obscuro que também interfere nas escolhas e decisões do
analisante. A vida em análise é estar diante
da vírgula que o impossível implica, que não cessa de se escrever.
O discurso
emitido pelo sintoma do sujeito, evoca algo da ordem do mistério que o implica a
ultrapassar os semblantes que moldam o lugar que insiste a convocá-lo ao gozo da repetição. Mas não é só isso, há muito mais a que se
aprender com o que a psicanálise se propõe em sua transmissão no quotidiano, que
se enlaça e entrelaça nos vínculos do sujeito do inconsciente.
Texto maravilhoso, simples e expansivo.
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