18.3.18

DOS FRACASSOS NO LAÇO COM O OUTRO NASCE A ALTERIDADE DO DESEJO


In transition. LOVEJOY, Emily 


A forma como lidamos com o fracasso pode nos levar ou não a novos lugares. Há um saber no fracasso que só o sentindo é possível fazer-saber para sabermos fazer com esse saber que poderá se instaurar. O inconsciente está às voltas do que não funciona em nós, e o fracasso é seu lugar próprio para dar pistas [através do não dito] sobre aquilo que enrosca, emperra e paralisa em nosso percurso.


O sujeito neurótico fica incapaz de sentir o ardor do fazer-saber sobre seu fracasso, por estar alienado à demanda do outro. Ao partir desse lugar, o neurótico não consegue filtrar as demandas e dizer não a algumas delas ao outro. 

O fracasso é visto com maus olhos e expurgado às pressas do sentir do sujeito. O impasse se instaura, uma porque o fracasso trata-se de um saber que constitui o sujeito; uma das línguas do inconsciente e do desejo, e outra porque é através dos fracassos no laço com o outro nasce a alteridade do desejo. 

Esse saber inconsciente, alteridade do grande outro que nos habita, que aos trancos e barrancos da análise tentamos escrever nossa biografia, que tentamos fazer as pazes para o transformar de inimiga a aliado. São essas tentativas desesperadas e repetidas que o sujeito aprende mais sobre os seus sintomas.

O fracasso não é o ponto final na biografia que o sujeito escreve, mas a vírgula que insiste e persiste em convocar algo da ordem do que o constitui. Por isso a importância de fazer-saber sobre o inconsciente, para saber-fazer com que vem depois, a castração: a falta. 

Refletir sobre o que nos faz fracassar é andar em corda-bamba, é abrir mão do saber estabelecido para atualizar todos os valores e ideias que até a minutos atrás sustentavam todo nosso corpo falante.  

É preciso e urgente que aprendamos mais sobre nossa alteridade, ela nos convoca a questionar a demanda do outro, a criar saberes para fazer-saber algo que se tenta dar sentido, e que implicado a esse movimento de busca todo esse sentido perde sentido e abre portas para algo muito que se aproxima de nós mesmos e do laço com o outro. 

O sujeito que aprender a fazer-saber sobre seu fracasso e atravessado por ele, aprende saber-fazer com isso, consequentemente se torna bem-sucedido.

3 comentários:

  1. Excelente texto! [...] "Refletir sobre o que nos faz fracassar é andar em corda-bamba, é abrir mão do saber estabelecido, para atualizar todos os valores e ideias que até a minutos atrás sustentavam todo nosso corpo falante".

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  2. Excelente texto, a frase que mais me fez refletir foi a de encerramento. "O sujeito que aprender a fazer-saber sobre seu fracasso e atravessado por ele, aprende saber-fazer com isso, consequentemente se torna bem-sucedido."

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