15.9.16

O RECONHECER E A CLÍNICA PSICANALÍTICA


Em busca de viver novas experiências com o objeto desejado, o reconhecer torna-se uma tarefa árdua, por trazer à reflexão de que nada se sabe daquele objeto de ontem, que hoje já não é mais o mesmo e será outro no amanhã. Deste modo, a convivência com o objeto desejado, não garante ao sujeito saber sobre ele. Assim, a capacidade de tolerar a frustração passa a ser indispensável, para que o sujeito possa reconhecer que nada se sabe do objeto que se deseja, o que não impede de amá-lo e continuar desejando.

A capacidade de se aproximar todos os dias, de forma diferente, pelo mesmo objeto que se deseja, faz conexão com a função do desejo de contribuir para o movimento do sujeito em busca de viver novas experiências com o Outro. O papel desempenhado pela intensidade do gozo depende da disposição do sujeito em desejar. Não se pensa aqui o desejo direcionado, mas o desejo que tem como proposito o movimento.

Enquanto o desejo for fonte de movimento do sujeito, dará ferramentas para transformar o desejo em sua vida, impulsionando-o na busca de viver novas experiências no contato com o Outro, com o mundo externo. A frustração, deste modo, é essencial nessa tarefa árdua e fantástica que envolve o sentir e o pensar. As experiências sucedidas só se sustentam por meio da memória, essa última é seletiva e traiçoeira em potencial, invalidando assim sua fidedignidade com a realidade dos fatos, por se fundir ao conteúdo impensado da mente.

Na perspectiva de Wilfred R. Bion (1967), a capacidade negativa é condição fundamental na tarefa do recolhimento de si mesmo no desenvolvimento saudável da mente, que possibilita ao indivíduo se ligar ao outro através do sentir, visto que na clínica psicanalítica será impossível ser por outro meio. 

De acordo com o autor, o reconhecer da dupla analítica, no setting terapêutico, muitas vezes pode não se configurar numa mudança catastrófica, que é essencial para o ato analítico. A mudança nomeada catastrófica é nada menos que a passagem de K (saber) para O (realidade última), em que a partir do reconhecimento do vínculo de 1+1 tenta construir ao iniciar a análise.

Não podemos deixar de esclarecer que a psicanálise está para todos, mas nem todos estão para psicanálise. Por demandar uma energia interna do sujeito, e a resistência inconsciente muitas vezes interrompe o processo analítico por apresentar certo desconforto à frustração. Uma vez expandida à psique humana, não há possibilidades de volta.

É aqui que entramos na perspectiva de que o sujeito terá que lidar com o desconforto que a dor traz e encontrar meios de transformar esse sintoma em uma causa que movimenta o desejo pela existência, vida. 

Mas é importante salientar que o processo para que o sujeito encontre esse “meio” é através do ambiente suficientemente bom que o analista oferece à ele, visto que a verdade sem amor é crueldade, o que impossibilita a expansão da mente do analisando, na tentativa de continuar caminhando e transformando seus sintomas em causa que leve-o ao conhecer-se a si mesmo. Portanto, o reconhecimento em análise é essencial na tarefa de expansão da mente, de possibilidade do sujeito transformar suas questões interna com amor e respeito ao seu sofrer.

Abraço,
Maicon Vijarva

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