20.3.17

A TEMPORALIDADE DO CORPO


Em algum momento do tempo, em análise, acabamos nos perdendo do tempo. Talvez, seja por aproximar o corpo do ambiente ao corpo do sujeito que ali se descobre. O relógio antiquadamente misterioso preserva o sujeito do tempo cronológico e dá uma possibilidade outra de existência. Mas há um além, existe o tempo que se observa atentamente cada detalhe que se mostra aos olhos, das formas em que o corpo se posiciona em um ambiente estranho, no entanto de um aspecto quase que comum, não fosse o cheiro e campo peculiar que apresenta.

Um espaço que por alguns minutos torna-se seu, que logo traiçoeiramente vem em mente uma voz que articula ‘mas há outros que usam esse espaço’. A curiosidade se instala em saber quem o são e quais razões o trazem aqui? Em passo acelerado o tempo passa. Não há quase tempo para pensar o que causa e acusa o sabor e dessabor da existência de nós mesmos.

Entrar em análise é um sacrifício de renuncia, tempo e paciência. 

Há o desejo de falar, mencionar cada detalhe do que passou e passa em nós e o quanto pesa o fardo. O outro alguém avisa que o tempo esgotou. Ainda perdido e pego de jeito pelo tempo, esbraveja um ‘poxa vida, quase não se falou o que precisava ser dito’. No achismo o sujeito pensa que a análise dura apenas os minutos do espaço em que habita dois corpos.

A análise percorre por algum tempo mais, como se pudesse dizer o que não pode ser dito. 

Quando o relógio pinta o tempo final da sessão, existe um espaço alucinado que desenha um suposto corpo do sujeito reflexivo por alguns minutos ou horas a mais após a sessão de análise. O sujeito vai se construindo a partir deste corte do seu tempo na sessão e passa a dar corpo às suas angústias e a pensar a si mesmo.  A temporalidade do corpo é uma estrutura organizada da causa que traz movimento à existência do sujeito que se escreve, inscreve e descreve antes, durante e depois da análise.

Abraço,
Maicon Vijarva

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