A psicanálise é para todo ser
humano que excede, que transborda os próprios limites e, numa obsessão desmedida,
o limite do outro. O amor e desejo estão presentes nessa disputa de amor e ódio.
Ama-se e odeia-se o mesmo objeto de desejo.
A obviedade de se ouvir muito
sobre amor na análise às voltas do ódio, do ressentimento, da amargura são próprio
da singularidade de viver tal amor rodeado de sofrimento que antecede o
presente. Trata-se de um passado que ainda persiste em se desenhar no presente,
pulsante [...] vivo. Que atuará como um superego invejoso diante das novas
configurações afetivas.
Não há uma receita que possa
autorizar o sujeito a se haver com seus sofrimentos, eliminando-os de forma
permanente. A angústia de uma análise é
construir [sem recurso nenhum] algo a partir de uma perda. É deixar de
sustentar um ideal para redescobrir novos meios para se reinventar.
A angústia é um sentimento
intenso e muito presente no trabalho analítico. O osso é duro de ser roído, por
estar diante da impossibilidade de ser possível ser feito algo a respeito. No entanto, é atravessado pelo
acolhimento da escuta do analista que o analisante sente-se o mínimo de
segurança possível para encontrar em seus próprios insights ferramentas que o
possibilite a ultrapassar os semblantes que o impedem de se constituir como
singular.
O preço que se paga na análise
não é o valor investido nela, mas trata-se mais, ainda. Os efeitos de uma
sessão analítica podem durar dias, semanas e meses. A psicanálise implica que o
sujeito se responsabilize por seu sofrimento, por sua escolha, por como deseja
gozar. Se dá conta ou não do que se propõe. Se é viável ou não.
A análise psicanalítica é viajar
diante do mar aberto com uma única ferramenta: a bússola. E saber utilizá-la é
o que fará toda a diferença frente ao acaso e surpresas que esperam por cada
sujeito em sua singularidade.
Pode-se planejar muito, mas é
preciso saber que existe uma força que rompe planos, trajetórias e devastam
ideias. É a partir da devastação que a vida dá autonomia para o sujeito se
reinventar. Por isso, não se prenda aos ideais culturais, convencionais e
conservadores.
Há dois caminhos na vida. Ser irresponsável
com o próprio desejo e inconsciente, gozando de forma desastrosa ou ser responsável
com o seu desejo e inconsciente, percorrendo um caminho que beira a loucura, ao
desespero e angústia. Mas que o leva cada vez mais próximo do que possa ser o
seu destino, com uma forma singular de contribuir com ele.