8.7.15

A PULSÃO DE MORTE E A FASE ANAL: UM COLÓQUIO COM A PSICANÁLISE

Na busca de aprender junto com o ser humano, numa via de mão dupla, sobre seu processo de desenvolvimento, a psicanálise vem se modernizando. Em contrapartida, como muitos já mencionaram, a psicanálise perdeu sua essência e nunca perderá.
Embora seja mais audaciosa em sua terapêutica contemporânea, ela mantém seus princípios bem presentes. Os conceitos abordados até o momento no blog Acura de Freud, dança em sintonia com todas as fases de desenvolvimento citados por Freud. No intuito de deixar mais claro alguns pontos desse mundo psicanalítico, apresento mais um ensaio para compreensão dessas fases.

É importante lembrarmos que, a área erógena na primeira fase estimula o exercício da boca, ou seja, todo prazer se encontra no contato oral, já o contato sexual mais acentuado, ocorre na segunda fase, quando o estimulo se encontra no campo genital. Quando uma fase sobrepõe à outra, pode ocasionar problemas futuros. Por quê? Para psicanálise, cada fase precisa ser vivida pela criança de forma completa, para que consiga elaborá-la e então seguir para próxima fase sem resíduos recalcados, que são armazenados no inconsciente. Visto que, o que um dia foi libido, hoje se torna pensamento, sendo projetado para todas as demais fases de sua vida.

Não é à toa que, para o bebê, o desmame é uma fase extremamente árdua. O que um dia para criança era a busca por saciar a forme, hoje se torna a busca por saciar o amor – pensamento nobre. O desmame é uma fase muito importante, uma vez que, em todas as demais fases iremos passar pelo desmame, buscando adquirir a independência. Quando mais favorável o ambiente for elaboração do desmame, mais rapidamente o bebê se tornará independente. 

A criança começa a aprender que algumas atitudes são proibidas, porque até então nada era proibido. Por exemplo, ela não pode mais fazer cocô nas calças, já que está grandinha. A parte física entra em sintonia com a vontade, ou seja, o controle – psíquico. Aprende a soltar e a reter. Há momentos em que a criança percebe que acontece alguma coisa no ambiente – mãe, quando ela faz o cocô nas calças. É então que ela começa a entender que precisa aprender ir ao banheiro, antes de fazer nas calças.

Se já era difícil vivenciar a fase oral, agora na fase anal fica um pouco mais, já que inicia a busca por mostrar que o cocô precisa ser feito exclusivamente na privada e não em outro lugar. Essa fase é uma vivencia constrangedora para criança, já que precisa de um adulto espere com ela até o cocô sair, ensinando-a a se limpar após a criação de sua obra de arte – o cocô. A psicanálise compreende que na fase anal, os pais precisam criar um momento lúdico, para que a criança se sinta segura de tudo que poderá acontecer, sem medo de errar.

Como já citado anteriormente, o cocô é a primeira produção da criança e dependendo de como o mundo receber essa produção, é como ela vai aprender a lidar com todas as demais produções de sua vida. Não à toa, que Freud já nos ensinava:

O cocô e o dinheiro são a mesma coisa. São nossas produções.

Sendo uma fase muito delicada para criança, qualquer descuido pode causar vários complexos na vida adulta, visto que, toda vergonha que sentimos hoje é fruto da fase anal. Pode não parecer, mas para criança é humilhante esperar a mãe chegar para limpar o bumbum sujo. É o momento em que a mãe precisa ser suficientemente boa, caso ela seja ríspida e expor “Nossa, que coisa suja, nojento e fedido”. Certamente, produzirá um incomoda maior para criança, que criará hábitos obsessivos, como por exemplo, o famoso TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo, mania de limpeza entre outros. Em suma, a criança se sente suja e se sentirá assim por toda vida adulta, tentando reparar – inconscientemente – o trauma vivido na infância. 

Na Fase Anal é o período em que se projeta a Pulsão de Morte, por isso Freud titulou de Fase Anal Sádica, por ser o momento de expulsão. É por isso que, na clínica, existem e irão sempre existir adultos que vão querer que o analista/psicoterapeuta limpe a cagada feita no final de semana. O analista assumirá o papel da mãe, que de forma lúdica e simbólica, irá junto com o paciente limpar o cocô feito por ele, ajudando-o a elaborar essa fase dolorosa da infância – reflexo do que a mãe não fez por ele, quando criança. Lembrando que, o analista, precisará ser um ambiente suficientemente bom, para que o processo de elaboração do paciente seja vivido de forma tranquila, sem medo de errar mais uma vez.


O processo de expulsar e/ou reter está literalmente unido à satisfação da libido. A fase anal é de natureza narcisista, ou seja, o júbilo encontra-se comigo mesmo. Em equivalência, é importantíssimo que o Outro – pais – estejam atentos com essa fase, já que a criança pode se prender no prazer de si mesma, deixando de se importar com a posição do Outro em sua vida. 

Além disso, não existe distinção de sexo – masculino e feminino – nesta fase. O que a criança percebe – que é totalmente o contrário –, é o conceito de ativo e o passivo. Quando a criança percebe seu pênis, imagina que a mãe também tem e adentra em conflito, quando ela entende que estava enganada. No simbolismo da criança, o que prevalece na fase anal é o sujeito dominador – ativo e o dominado – passivo.

Como aprendemos no texto anterior A Psicanálise e a Fase Uretral entre a Fase Anal e a Fase Fálica, há um desdobramento, conhecido como um período onde encontramos características que não jazem em nenhuma destas Fases, que podemos titular de Fase Uretral, que consistir em reter e/ou expelir o xixi. São características igualmente vivenciadas na Fase Anal, porém a atenção é focalizada no urinar.

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