Em meados dos últimos anos de faculdade, muitas pessoas passaram em minha vida. Ouvi professores, desconhecidos, orientadores, pacientes, amigos de faculdade, de trabalho e me ouvi. Mas muitas dessas pessoas falavam comigo pelos olhos, emitindo uma vibração de pensamento de alma para alma.
Em nossa vida, há aspectos que não conseguimos externalizar na fala. Algo que não pode ser dito, mas talvez sentido pelo toque ou imaginado pela ausência da fala. Ficamos muitas vezes apreensivos, sob o olhar do outro, se seremos julgados, rejeitados ou ignorados. Antes de todo esse sentimento vivenciado pelo Eu-Externo, o SuperEgo já nos corrói e nos pune por dentro. Ou seja, ficamos amedrontados com o Outro que criamos dentro de nós, deixando de perceber o que esse Outro realmente é.
Cometer erros é o que nos faz humanos... é como nós aprendemos, é como encontramos alegria. Mas alguns erros fazem comunhão com a culpa e isso é o que nos adoece. Ou seja, sofremos por antecipação, numa perspectiva imaginária. Talvez pensar sobre a dor faz com que possamos elaborá-la e desfazer as pazes com a culpa. Entretanto, não podemos ficar estagnados sob a latência do que é pessimista. Há uma dor saudável e enriquecedora, que nos faz crescer, evoluir.
A presença do Outro é essencial para construção da nossa identidade. Não somos os mesmos de 10 segundos atrás, estamos sempre mudando. No entanto, não deixamos nossa essência por fazer novas escolhas, assumir um erro ou reformular toda uma vida. Não há identidade estável, ela muda conforme nos relacionamos com o Outro, esse que é tão essencial a nós, quanto para às realizações individuais. Realizar-se com o Outro é muito valioso para nossa saúde psíquica. O individualismo gera conflitos internos que adoece a consciência, trazendo mal-estar para o corpo e a psique.
É por isso, que independentemente se somos analistas ou não, devemos estar sempre atentos e ser o mais acolhedor possível, proporcionando um ambiente suficientemente bom para que quem é ouvido sinta-se seguro em ser a nosso lado, que possa pensar sobre seus erros, refletir sobre a culpa que sente, para então externalizar a fala oculta e se libertar do sentimento repressores.
Quando o ser humano for capaz de ouvir seu semelhante, sem medo de perder tempo, certamente não haverá mais ressentimento, culpa ou guerra. Haverá mais sensibilidade, afetividade e gentileza entre nós, humanos.