Objetivo deste texto será relacionar e analisar as
abordagens psicológicas com as práticas realizadas na instituição de
saúde. O estágio de saúde proporcionou atrelarmos à prática com o
conhecimento adquirido em sala de aula. Observamos o trabalho do psicólogo nos
principais âmbitos de saúde.
A Psicologia na Saúde é um campo
que estuda as influencias psicológicas na saúde, os fatores responsáveis pelo
adoecimento e as mudanças de comportamento das pessoas no adoecer, não se
restringe apenas a ambientes hospitalares ou a centros de saúde, mas se dedica
também a todos os programas que venham a enfocar a saúde física e mental
coletiva.
A psicologia na
saúde pode ser compreendida como um domínio da psicologia que utiliza vários
conhecimentos resultantes de estudos e de pesquisas psicológicas, com o intuito
de promover e proteger a saúde dentro das instituições.
É também seu
objetivo, prevenir e tratar enfermidades, bem como identificar etiologias e
disfunções associadas às doenças, além da análise e melhoria do sistema de
cuidados de saúde e aperfeiçoamento da política de saúde.
Por isso, segue
abaixo algumas das formas terapêuticas desenvolvidas no âmbito do hospital psiquiátrico,
e quão importante essa experiência é importante para o paciente e para os
profissionais. Lembrando, que este texto é um ensaio, uma visão particular
sobre os grupos, visto que há muitas possibilidades de se ver as experiências
em grupo, de vários ângulos.
GRUPO TERAPÊUTICO: “ATITUDES E
VIRTUDES”
A
terapêutica proposta na observação clínica, dentro do âmbito do Hospital
Psiquiátrico para os adictos – dependentes químicos –, é o grupo “Atitudes e
Virtudes”, o qual desenvolve uma abordagem diferenciada, psicodinâmica, tendo
como objetivo estimular o pensamento e desenvolver a autonomia dos pacientes.
Em grupo, os pacientes são estimulados a
expressarem-se, por meio de uma história contada, na qual confronte, de alguma
forma, a “realidade” do paciente em grupo-terapia. Algumas vezes, o enfoque passa
a ser os sentimentos trazidos por eles, dentro da problemática que os levou a
se tornarem adictos: dependentes químicos.
A psicodinâmica inicia-se a partir dos
comentários que os membros do grupo fomentam, assumindo a condição de pensar
sobre seus conflitos internos – mesmo que de forma fragmentada, compartilhando-os
com os demais membros do grupo. A posteriori apresentada pelos pacientes
interligando-se com a priori, da supervisão, interagem de forma espontânea em nossa
visão do holístico, o que interessa nesta terapêutica não é somente as
patologias, mas a forma como o paciente traz seus sentimentos conflitantes, por
vezes arcaicos num inconsciente não realizado, para se pensar em grupo.
Nesse
grupo específico, há pacientes com diversos transtornos, neste trabalho os
transtornos mais observados: a esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno
depressivo.
GRUPO TERAPÊUTICO: “CONTA OUTRA”
A
terapêutica do grupo “Conta Outra” utiliza-se de métodos inovadores, aposta na
escrita como ferramenta para mediar os estímulos entre a própria autoestima,
como também, contribui para que o indivíduo desenvolver a sua autonomia.
Os textos produzidos pelos pacientes
tende a mostrar uma busca incessante de algo não mensurado, mas questionável e
consciente sobre tempo e lugar. Traz ainda ricos argumentos em distinção à
loucura em meio às reflexões num momento oportuno de conhecer a si mesmo.
Os pacientes encontram, na escrita, uma
forma de almejar encontrar um ponto de equilíbrio, em nome da Razão. Onde pode
depositar a fé e a esperança de cada dia ser uma pessoa melhor. Escrever e
compartilhar sua vivencias, é atividade árdua, que apresenta uma atitude de coragem
ao apresentar seus sentimentos descritos no papel, tomam emprestado o verbo da
razão para expressar em meio à loucura, sua mais lúcida e retórica mensagem
ideológica que muitas vezes o sujeito da razão não consegue proferir com tal
precisão.
“Entre o homem da razão e o homem de loucura, não há discurso da loucura sobre a razão diálogo outrora existente entre elas se interrompeu” (FREYZE-PEREIRA, 2006, p. 48).
Há
escritas em que o sentimento de tristeza, acondicionado na emoção que brota as
palavras escritas, termina com um momento muitas vezes lírico. No entanto,
quando alguns pacientes começam a descrever suas histórias, a fantasia figura –
dá corpo – à realidade, que numa singularidade concebe uma forma – capacidade –
de viver.
O indivíduo está sempre além dos limitados instrumentos que a ciência nos oferece. Ele permanece sempre como uma individualidade que não se reduz ou se deixa aprender nas teorias. (...) Compreender o indivíduo é, sem dúvida, o ponto chave de toda a ação psicológica e psiquiátrica (DUARTE JUNIOR, 1983, p. 25-26).
Segundo
estudos práticos da psicanálise, Freud (2006) verbalizados os conteúdos
reprimidos na dor, é possível pensar-se numa superação dos traumas ocorridos na
infância e nas suas relações interpessoais. Em uma de suas teorias Freud vai
descrever que as neuroses traumáticas podem proclamar em alta voz os efeitos do
perigo mortal, bem como podem ficar em silêncio ou apenas falar apenas em
surdina dos efeitos das frustrações.
Em sua teoria o autor descreve: “o
estranho é a categoria assustadora que remete ao que é conhecido de velho, e há
muito familiar. Como isso é possível em que circunstancia o familiar pode se
tornar um estranho e assustador” (FREUD, 2006, p. 238).
Para Freud (2006) o neurótico em sua
infância teria sido vítima de uma ação sexual real e que esse fato traumático
teria sido recalcado e se transformado em patogênico. Sua remoção só seria
obtida com a ab-reação e a elaboração psíquica da experiência traumática.
Em
sua proposta, também vai dizer que, nesse caso, “o indivíduo impossibilitado de
se defender da ação trágica de forma normal o indivíduo empreende uma defesa
que nada mais era do que a censura exercida pelo ego sobre a ideia que
despertavam sentimentos de vergonha e de dor” (FREUD, 2006 apud GARCIA-ROZA,
2008, p. 155).
Em
um esboço o autor descreve:
Por detrás dos fenômenos da neurose, não são quaisquer emoções afetivas que agem, mas sim, regularmente emoções de origem sexual, sejam elas conflitos sexuais atuais ou então consequências de acontecimentos sexuais anteriores. As manifestações infantis da sexualidade não determinam apenas os desvios, mas também as formas da vida sexual adulta (FREUD, s/d apud CLARET, 1986, p. 61).
Assim
sendo, a compreensão do grupo indica que o mesmo contribui para o desabafo e
reflexão sobre si mesmo, para que o paciente possa se perceber quanto humano,
procurando uma forma de continuar a viver, em meio aos destroços de sentimentos
vivenciados.
GRUPO TERAPÊUTICO: “ARTE-TERAPIA”
A
compreensão que o terapeuta ou grupo terapêutico busca não pode ser apenas
deduzida logicamente de uma teoria que ele já tenha pronta, em sua cabeça. Tais
teorias psicológicas ajudam, mas não se constituem no núcleo de processo de
compressão. É necessário que o psicoterapeuta ou grupo psicoterapêutico procure
também sentir como o indivíduo se sente. Compreender, aqui, não é meramente uma
atividade intelectual, lógica. É um processo que envolve a inserção do
terapeuta, na relação, como um ser humano pleno. Laing, (1960), apud Duarte
Junior (1983).
Portanto,
seguindo a fala do autor, o terapeuta tem que estar atento ao paciente e ter um
olhar diferenciado, uma visão holística de sua atuação e perceber também o
ambiente. Mesmo porque o indivíduo portador de transtorno mental encontra-se
tolhido frente ao outro, e em todo seu convívio social e familiar.
Jung em 1920 começa a utilizar a expressão artística
como coadjuvante no tratamento psicoterápico favorecendo o contato terapeuta
cliente. Estimulava seus pacientes a pintarem livremente, a partir de imagens
de seus sonhos e de suas fantasias como inspiração. Gradativamente, seus
pacientes desenvolviam a leitura de seus próprios trabalhos e os possíveis
significados simbólicos de suas obras. Jung vê o homem como um ser
essencialmente social e a psique humana não podendo existir sem uma cultura de
origem, em que a individualidade vai se processar por diferenciação deste
contexto maior (CARVALHO, 1995).
Uma
figura que se destacou no Brasil, no que se refere ao trabalho de arteterapia
no hospital psiquiátrico, foi Dra. Nise da Silveira, que é considerada a
introdutora do estudo sistemático da psicologia analítica no Brasil, sendo
responsável pela formação do Grupo de Estudos C.G. Jung, de que foi presidente
desde 1968. Foi Jung (1962-63) que através de pesquisas, chegou ao conceito de
Inconsciente Coletivo, que ultrapassa as fronteiras do Inconsciente Pessoal. O
Inconsciente Coletivo possui camadas profundas com heranças comuns a toda a
humanidade. Ele tem como elementos estruturais os arquétipos Tommasi (2008).
No ano de 1952, Dra. Nise reuniu os trabalhos dos pacientes e criou o Museu de Imagens do Inconsciente, na cidade do Rio de Janeiro, considerado atualmente um acervo de imenso (são milhares de obras), repleto dessas imagens e também de imagens que representam a visão do pintor do mundo externo, sua percepção do mundo, além de vivências subjetivas na relação com o espaço e com o outro (TOMMASI, 2008, p. 7).
“É
na linguagem não verbal que são estimuladas pelas mais variadas atividades como
o desenho, o pintar e outros, que o paciente consegue manifestar-se e se
expressar-se, melhorando a qualidade da sua relação com o mundo” (SILVEIRA,
1992).
A arte terapia dinamicamente orientada baseia-se no reconhecimento de que os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem derivam do inconsciente e frequentemente exprime-se melhor em imagens do que em palavras. As técnicas da arte-terapia baseiam-se no conhecimento de que todo indivíduo, tenha ou não treinamento em arte, possui capacidade latente para projetar seus conflitos internos sob formas visual (SILVEIRA, 1992).
A
arterapia, como descreve a autora, não se baseia como principal fonte o
cognitivo e sim se constitui através das emoções e sentimentos que estão
contidos em toda sua esfera. O trabalho em arte-terapia pode ser desenvolvido
individualmente ou em grupo. Sua essência consiste em estimular e auxiliar seu
paciente e/ou grupo a utilizar técnicas expressivas, que podem ser verbais ou
não-verbais, por intermédio do corpo.
O
objetivo é o de expressar-se espontaneamente sentimentos, emoções e atitudes
que possam ser liberadas e trabalhadas. O objetivo de um terapeuta não é o da
produção de obras de arte e nem o de transformar seus pacientes em um artista,
porém, sabe-se que algumas pessoas descobriram-se artistas por intermédio desse
processo (TOMMASI, 2008).
No
momento em que o paciente está envolvido em uma atividade, não se está se
desenvolvendo de maneira aleatória. A autora leva-nos a perceber que o artista
interno começa a fluir impelindo o sujeito a se descobrir através da arte.
Segundo
Silveira, (1992) que diz:
A imagem não é simples cópia psíquica de objetivos externos, mas uma representação imediata, produto da função imaginativa do inconsciente, que se manifesta de maneira súbita, mas sem possuir necessariamente caráter patológico, desde que o indivíduo a distinga no real sensorial, percebendo-a como imagens internas. Na qualidade de experiência psíquica, a imagem interna será mesmo, em muitos casos, mais importante que as imagens das coisas externas. Acentuemos que a imagem interna não é um simples conglomerado de conteúdos do inconsciente. Constitui uma unidade e contém um sentido particular: expressão da situação do consciente e do inconsciente, constelada por experiências vividas pelo indivíduo. (SILVEIRA, 1992 apud TOMMASI, 2008).
Dr.
Nise da Silveira olhava para aqueles pacientes de forma diferente da
psiquiatria tradicional. Valorizava o contato afetivo, pois eram pessoas que
estavam sofrendo muito, já que tinham rompido o seu contato com a realidade e
“mergulhavam”, sem nenhuma proteção, no inconsciente. Por meio do acolhimento e
do respeito, procurava possibilitar o caminho de volta para a realidade e para
a recuperação da autonomia perdida (TOMMASI, 2008).
Vista
desse prisma a arteterapia em grupos tem a finalidade de promover a
representação psíquica e simbólica do paciente. Tem como presuposto básico a
expressão verbal, onde os pacientes são convidados e estimulados a escreverem o
que estão sentindo e pensando.
Nossa atenção especial segue a um grupo
terapêutico de um hospital psiquiátrico situado no interior do Estado de São
Paulo, onde se desenvolve um projeto cuja proposta principal é que o interno
possa também expressar livremente suas angústias e vivências, e ao mesmo tempo
ser estimulada à escrita e à capacidade de exercer a autonomia por meio de
atividades expressivas específicas.
Para
Cociuffo (2007) a arte como proposta de terapia tem uma função extremamente
importante e essencial para o desenvolvimento humano. Ali se integram elementos
conflitantes tais como: impulso-controle, amor-acolhimento e em contrapartida,
ódio-agressividade, sentimento-pensamento, fantasia-realidade,
consciente-inconsciente, verbal, pré-verbal e não-verbal.
“Em
diversas teorias reconhece-se a arte-terapia, como função integrante, revelando
um poder de unir forças oponentes dentro da Personalidade. Favorecendo, porém,
as reconciliações e necessidades que o indivíduo apresenta sobre as demandas do
mundo exterior” (CARVALHO, 1995, p. 68).
Fazer arte gera autoestima, encoraja a experimentação, desperta novas habilidades, o que, por si só, já seria terapêutico. Além disso, o processo criativo conduz ao desenvolvimento dos potenciais e flexibilidades, além de oferecer oportunidades para o crescimento e mudança de forma agradável. Assim sendo o processo criativo favorece a saúde psicológica, física e espiritual (MALCHIADI, 1998 apud BILBAO, 2004, p. 63).
Partindo
das premissas citadas acima, entendemos que o ser humano vive em constante
movimento, em seus pensamentos, ações e sentimentos. E sente a necessidade de
estar em contato com objetos externos para poder se organizar internamente.
Segundo
o autor discorre em seu trabalho sobre a visão do valor terapêutico que a arte
pode produzir por si só. Dizendo que a arte-terapia é o ponto de encontro,
vivenciado pelo ser humano, dos mundos internos e externos. E nessa junção arte
e terapia, uma potencializa a outra, revelando como objetivo primordial da
utilização da atividade expressiva, o favorecimento do processo terapêutico
Carvalho (1995).
Visto
que o trabalho com a arte-terapia apresenta um significado importante no
processo terapêutico, cabe ao profissional da saúde, mais precisamente o
terapeuta, estar atento a uma escuta diferenciada. E a presença constante do
olhar de compreensão, junto a atitude de acolhimento numa espontaneidade para
com o paciente, permitem fazer a diferença em meio ao tratamento terapêutico.
Nesse
sentido, a autora nos remete a uma relevante percepção, ao dizer que a arte
terapia representa o ponto de encontro vivenciado pelo ser humano em seu
contexto interno e externo.
O paciente é levado pelo terapeuta a se soltar da maneira mais espontânea possível, rabiscando, colorindo, desenhando, esculpindo, dançando, o que e como quiser. Será por estas atividades que o paciente poderá expressar seus sentimentos, pensamento, emoções, atitudes, descobrindo aspectos seus que antes não estavam claros, reconhecendo-se no que sai de si (CARVALHO, 1995, p. 24).
Dentre
as atividades descritas nos grupos terapêuticos propostos pela autora, faz se
necessário ressaltarmos também o uso da escrita como elemento fundamental na elaboração
interna e externa do paciente, como ocorre no grupo “Conta Outra”, que vem
desenvolvendo um trabalho acolhedor com os pacientes que se integram no grupo.
DINÂMICA DO GRUPO ARTE-TERAPIA:
Inicialmente
é distribuída uma folha sulfite em uma prancheta para cada paciente, sendo uma
média de cinco a dez pacientes por grupo, e são convidados a utilizar o espaço
escrevendo, pintando ou desejando algo que estejam pensando ou sentindo, dando
preferência a sentimentos e pensamentos positivos, evitando falar de doenças,
tragédias, ainda que seja possível falar disso também.
Quando
terminam, cada um compartilha o que desenvolveu e o grupo comenta o que quiser
sobre o que foi feito, estimulando o olhar do outro sobre si, ou seja,
relacionamento intra e interpessoal. A
interatividade entre cada membro do grupo é muito dinâmico, embora, em algumas
vezes seja dificultoso desenvolver total dinâmica, pois o grupo caminha de
acordo com as relações que ocorre nele, proposto pelos próprios participantes.
A ideia inicial, bem como todos os outros grupos proposto pelo Hospital
Psiquiátrico, é desenvolver a capacidade de autonomia do indivíduo
participante, para que, mesmo em suas limitações, possam ter contato com a
realidade deles e do grupo.
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