O ambiente terapêutico é um lugar
misterioso, no qual é sabido que você pode sair feliz por ter “solucionado” um
“mal-estar”, como pode sair “desgostoso” e com uma vontade de “socar a cara”
daquele terapeuta de merda que você paga uma fortuna por sessões, para ele não
dizer nada que te encoraje, mas que te cativou, a ponto de você deixar escapar a (merda)
dor, que tanto segurava e que fedia dentro de você.
Realmente a palavra é um bicho
que sai da boca, que tanto pode acariciar ou agredir, quando se volta contra o
interlocutor. É como se você desse a sua próxima carta de bandeja para o
terapeuta, sem se dar conta do que está fazendo. Neste momento, surge a ideia
do faz
de conta, que por algum tempo, pode funcionar ou não numa sessão
individual, mas num grupo terapêutico dificilmente o faz de conta se sustenta
por muito tempo, visto que há mais pacientes a confrontar o que está sendo
pronunciado.
De acordo com algumas
observações¹, é notável que o faz de conta, acaba se desfigurando
e mostrando as raízes que machucam o interior do interlocutor. Explico. Na
terapia em grupo, que tenho como certeza, que é de considerável saudável e rica
de conteúdos a serem estudados e analisados, o paciente que fala, de forma
disfarçada, como por exemplo, no faz de conta, o paciente apresenta
um discurso, no qual se moldura como uma pessoa boa e que não faz mal a
ninguém, que foi injustiçada pelos familiares, por acharem que ela é uma mulher
da vida, por viver nas baladas.
Em primeiro momento, o relato nos
remete ao afeto de compaixão, acreditando que essa família estaria sendo um
tanto que radical com a paciente. No entanto, quem repudiaria e discriminaria
uma pessoa a ponto de não querer mais vê-la por perto, simplesmente por ser tão
boa, que quer só curtir a vida? Em vias de boa sanidade, ninguém o faria. A
partir deste aparato de informações, onde entra a terapêutica em grupo.
Pacientes que ouviram tal história atentamente,questionam a interlocutora:
Será que ela e só baladeira como diz? Será que ela não fez algo para essa família, para mesma ficar com receio e não querer mais vê-la?
Encantador, não é? Sim, é
incrível como em uma sessão de terapia em grupo, as pacientes que se põem a par
dos fatos, colocam-se a pensar sobre o tema, aquecem sua autonomia. Claro, isso
é um processo, nem sempre é possível ter esse ganho. Mas, o que vale é a
tentativa no dia a dia, que é propor um tema inicial, para que ramifiquem novos
temas.
Pacientes se colocam na posição
de co-terapeutas, como se dissessem: contra outra, que faz de conta que eu
acredito. Questionada a interlocutora fica
constrangida, e se sente na necessidade de se explicar, contar ainda que
superficial algo a mais que complemente a linha de pensamento inicial.
Tais atos de prostituir-se ou
viver neste ambiente podem ser desde o desejo de viver essa experiência, o que
podemos pensar ser um fetichismo, bem como a necessidade de se manter na zona de conforto, visto que é mais fácil
caminhar pelo método mais simples, sem esforços, ao invés de caminhar por
caminhos que exijam mais trabalho e doação de si. Existem incontáveis argumentos e formas de se
pensar. Entretanto, a paciente escolhera viver numa casa de “mulher da vida”
até conseguir dar seus próprios passos, sozinha.
O que compreendi nesta sessão em
grupo é que, na forma mais simples, não há o único culpado, de modo que ninguém
caminha para o poço sozinho. Não estou no proposito de dizer que os familiares,
aqui no caso, sejam os malfeitores, ou que por trás de toda história haja um,
mas há contribuições para essas escolhas. Tudo depende de como a dor afeta o
indivíduo. Uns são mais fortes, outros não tanto.
A terapia vem como forma de
contribuir com o paciente que se perder da direção do seu ideal e sonhos, ou
que procura uma direção. No entanto, a terapia só acontece com a fala do
paciente e a escuta minuciosa do terapeuta.
“Quem chora, nem sempre quer mamar”.
¹ - Observações: o caso aqui narrado não é verídico, ou seja, é de teor fictício. Mas, delicie com a possibilidade de imaginar, que o caso poderia ser verdadeiro. Já que estamos vivendo, então tudo pode acontecer.