16.7.12

O COTIDIANO EM ANÁLISE




QUANDO PENSAMOS NO AMBIENTE TERAPÊUTICO, logo nos vêm à consciência o nome do famoso analista Sigmund Freud o pai da Psicanálise e, ulteriormente, em vários outros seguidores da psicanálise. Podemos notar que ainda hoje a relação aos estudos da mente sobre a psicanálise provoca rumores, confusão e muitas dúvidas. Alguns estudiosos preferem o silêncio ao ter que discursar o assunto, deixando de ousar, ultrapassar as fronteiras, repensar a teoria e criar novas possibilidades dentro do contexto desta linha, para ampliar a visão dos estudos. 
O trabalho do analista se resume ao 'amor', caminhar junto com o paciente e não é ocasional que Freud compare o poeta com o analista. Essa dimensão artística da experiência analítica se manifesta na linguagem metafórica, poética, à qual nós recorremos muitas vezes, não é para enfeitar um texto, mas porque ela é a única forma que encontramos para nós expressar, seja ao falar ou descrever os fenômenos dessa nova realidade descoberta por Freud, à realidade psíquica inconsciente e consciente dentro do set-terapêutico. 

Analisando as pessoas, no seu dia-a-dia, é comum ouvi-las se questionarem sobre o que é análise, o que acontece no set-terapêutico, e se há realmente resultados. Seria muito simples dizer que é só fazendo análise que se é possível saber o que ocorre dentro do set-terapêutico. Mas não é tão simples quanto parece e muito menos tão complicado. Quando nos propomos a pensar a análise/terapia, em seu primórdio, teremos o conhecimento que a terapia é, em essência, o ato da reflexão. Pensar-se a si mesmo.

Contudo, fica claro que a análise não necessariamente ocorre somente por algumas horas, dando exclusividade ao set-terapêutico. Acredito que é possível vivenciarmos a análise, também fora do set, na ausência do analista. Assim, como o analista Freud, que é uma prova concreta, que nós mesmos podemos ser nosso próprio analista, uma vez que a terapia deve ocorrer no âmbito familiar, na vida e no cotidiano.

No entanto, não desconsidero que a análise dentro do set-terapêutico seja à base para o tratamento do paciente, e que seja essencial o acompanhamento do profissional no processo de "dialogo" com o paciente sobre suas inquietações. Pronuncio a palavra “paciente”, por ser uma capacidade que envolver a paciência, calma e compreensão das questões que envolvem a nós mesmos e ao mundo, como podemos ver, é preciso ser muito paciente, quando lidamos com o outro, quando tocamos o seu íntimo, na sua dor, no seu passado, que são representações dentro do presente e que causam grandes inquietações, que podem atormentá-lo ainda mais no futuro se não forem compreendidas no seu presente.

Não há dúvidas que, quando o paciente consegue por si mesmo, (re)pensar suas atitudes, erros, sonhos, no significado de sua vida e qual é o papel que o outro exerce em sua vida, podemos dizer que está ocorrendo a “transformação” da análise, ou seja, está acontecendo a terapia.

Assim sendo, o set-terapêutico não é a sala das soluções, ou o lugar ideal para despejar todas as coisas ruins, que não deram certo e sair fora como se nada tivesse acontecido, para viver uma nova vida, muito se engana quem acredita nessa possibilidade. O intuito da análise dentro do set é propor ao paciente o ato de “pensar”, porque para pensar, antes foi preciso sentir, olhar para dentro de si mesmo, e assim entrar em um processo de reflexão sobre os pontos que se deseja promover mudanças, olhar para as dificuldades sem medo de enfrentá-las. Isso é a essência da psicanálise, e o analista é apenas o suporte, quem cria a terapia é o próprio paciente. A análise só existe, se o paciente estiver aberto para pensar-se-a-si-mesmo.

O analista é um facilitador, que se propõe a acompanhar o paciente no processo de analise da sua vida, das dificuldades anteriores e posteriores de sua jornada, e isso só é possível se houver um vínculo saudável que venha propor o amor, que será o suporte para compreensão das transferências de amor e ódio transmitidas do interior do paciente, em seu processo de analise. A vida é uma verdadeira terapia, ela e a natureza nos ensinam constantemente o valor da simplicidade. O mundo é o ambiente propicio para pensarmos sobre nós mesmos. A vida é uma terapeuta, que nos escuta e nos consola nos momentos de angústia e dificuldades do dia a dia.


Deste modo, a análise não deve ser limitada ao set-terapêutico, deve ser sentida, vivenciada no cotidiano, pois não é o ambiente do set-terapêutico, ou o analista que dará um significado e um significante para nossa vida, mas nós mesmos, com simples atitudes de re/pensar nossos atos, tanto com nós mesmos, como para com o próximo. Por mais seguro que o set seja, é o mundo fora dele é o que está em evidência, por isso que devemos viver à terapia no dia-a-dia, e não nos limitando apenas com o suporte do analista, assim para qualquer coisa em nossa vida, devemos criar uma maturidade para compreender a simplicidade que nos rodeia. 

"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta" 
Carl Gustav Jung

Um comentário:

  1. Anônimo08:31:00

    Amei o texto, ótima reflexão sobre o processo terapêutico que não acaba quando a sessão termina. Continuarei acompanhando suas publicações enriquecedoras. Beijos!

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