Quando pensamos a clínica a partir desta perspectiva, é possível notar que quando o analisante se permite pôr-se à prova, a associação livre dança livremente como uma criança que começa a dar os primeiros passos firmes por estar deslocada do olhar do desejo do outro; é na ausência, na distração, na falta, no deslize do olhar de expectativa que se começa a caminhar sem dar conta de que esteja avançando.
Dito isto, retorno ao termo fallen, que faz mais sentido relendo os fundamentos da clínica de Freud. Posto que, quando o sujeito fala livremente - conforme constitui a regra fundamental da psicanálise - em análise, ele deixa “cair” tempos represados em palavras que mostram sempre não-toda e que causam um barulho interno que chega a coçar as orelhas e a ponta da língua.
Ao tentar traduzir o que caiu, o sujeito tenta catar as ocorrências daquilo que corre (escorrega) no não dito de uma palavra. O que causa susto não é a palavra que cai de sua boca, é o que escapou junto e que não foi possível de nomear. Não é porque não foi possível dar nome, que aquilo deixa de se escrever. É através desse atravessamento à queima roupa, que o sujeito inicia o seu trabalho, que sente coragem de arregaçar as mangas mesmo com medo do que pode encontrar pela frente.
Em tempos onde borbulham a possibilidade de análise online, é sempre importante retornar aos artigos de Freud. O pai da psicanálise em nenhum de seus artigos deixou o passo a passo de como aplicar as técnicas da psicanálise, talvez por saber que muitos poderiam vestir sua camisa sem questionar a impregnado de um estilo que nela se encontra. Talvez por isso, Freud orientou com pinceladas para que cada novo analista ou psis, orientados por sua teórica, pudessem criar um estilo próprio orientado pelos princípios básicos da psicanálise, para que o essencial de uma análise pudesse nascer: o acolhimento à escuta da singularidade e como ela se transforma a cada nova sessão.
Portanto, o mais importante de um processo psicanalítico é o analista promover um continente para conter a dor e a alucinação do analisante, para que assim, ele possa respirar e reconhecer aos poucos fragmentos do seu próprio discurso. Para que isso possa acontecer, é fundamental que o analista exercite o movimento de sem desejo, sem memória, sem compreensão, para que os ruídos teóricos não contaminem a sua atenção flutuante na escuta da singularidade de cada analisante.
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