11.10.17

PSICANÁLISE: UM ATO DE MOVIMENTO


 “a Psicanálise é uma terapêutica, a da neurose, e é ao mesmo tempo uma teoria psicológica, uma teoria geral da natureza humana e especificamente da existência do inconsciente e das manifestações deste em sonhos, sintomas, no caráter e em todas as produções simbólicas" (Erich Fromm,1969).

A psicanálise é um movimento de tratamento elaborado por Sigmund Freud, através de estudos sobre o sujeito de sua época, que apontou ao seu criador o caminho para a descoberta do inconsciente. O tratamento analítico, em sua constante descoberta de novos elementos, está na escuta investigativa do discurso [entre o real e a fantasia] do sujeito em seu sofrimento psíquico.

Essencialmente é uma teoria que se propõe estar junto com o sujeito do inconsciente em seu percurso na elaboração de um saber a respeito da estrutura que o constitui.  Faz necessário trazer em alto relevo, que negar o sofrimento psíquico ou realocá-lo não basta para extinguir seus sinthomas.

A dinâmica do que causa o sujeito oferece à psicanálise elementos para pensar o que constitui o sujeito. Na análise com crianças e adolescentes, o dinamismo está em percorrer o que há no saber desses sujeitos e como ele está se constituindo. De acordo com Françoise Dolto, “as crianças são os sintomas dos pais”.

O que nos aponta a pensar o contexto familiar e que nele, estrutura um saber inconsciente para cada membro que o compõe. A escuta analítica ouve o que falta ao sujeito e, mais ainda, o que ele fez/faz com o que lhe falta. O nome recebido pelo sujeito, o seu lugar no desejo dos pais, a dinâmica que o constitui nessa família, o estágio que vivenciava em seu desenvolvimento quando certos eventos ocorreram, a relação com a função paterna, – entre outros elementos – são reveladores na elaboração do pensar a posição o sujeito se coloca frente ao outro e aos acontecimentos da vida. A psicanalista lacaniana Flávia Albuquerque (2011), 
“a partir destes detalhes, o sujeito constrói um certo ‘discurso inconsciente’. Discurso este que o analista está apto a escutar e desenvolver, em forma de interpretações, ao sujeito que busca. A escolha da profissão, dos parceiros amorosos e decisões tomadas estão intimamente ligadas a todo este contexto”.
A autora levanta uma questão importante, quando direcionamos para a pergunta de quanto tempo dura uma análise. A psicanálise apresenta um percurso de tratamento longo, por oferecer a possibilidade de pensar o que causa o sujeito frente o desenrolar da vida. Para Flávia Albuquerque, uma análise levada ao pé da letra é um osso duro de se roer, mas o que não quer dizer que os seus efeitos sejam morosos.

Entrar em análise, não isenta o sujeito das repetições que o estrutura até o momento da busca por tratamento, tampouco, tantos outros acontecimentos que virão a ser importantes de ser trabalhados. Para além disso, existe uma outra questão que borbulha os sujeitos que buscam à análise. O valor do investimento. Muitos pensam que o valor das sessões em psicanálise seja caro. Sim, pode até ser.

Mario Sérgio Cortella, faz a consideração de que caro é aquilo que não tem valor, que não vale o que se paga. Para Flávia Albuquerque, a psicanálise ser um tratamento cara, não significa que o menos favorecido não possa se submeter a uma análise. O que nos revela que a análise é cara para cada um à sua maneira.

Aquele que arrisca e aposta tudo em sua análise, é um sujeito que ousa ao trabalho árduo de se propor à questionamentos sobre a relação consigo mesmo e com o outro. É impossível atravessa a vida ileso de sofrimento, porque na vida é preciso se reinventar e conviver da melhor forma possível com as causas da dor de existir.

Ao se submeter a uma análise bem conduzida, o sujeito é informado pelo analista sobre a existência e funcionamento do inconsciente que o estrutura, esse ato proporciona ao sujeito um movimento de transformação ante a vida. Os efeitos de uma análise é subjetivo, não existe um saber uniforme [na psicanálise] que dê conta de padronizar um método, pela ética de que cada sujeito é único em sua maneira de existir no mundo.

Referências
ALBUQUERQUE, Flavia - Afinal, o que é psicanálise? (2011) Link:  https://goo.gl/cdJrGc
FROMM, Erich – A missão de Freud, 1969. Rio de Janeiro, Editora Zahar.

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