Dance II - Henri Matisse - 1910 |
A técnica e a expressividade são questões muito intrínsecas aos debates em dança. Embora exista ainda a tendência em considerar a dança um movimento direto e espontâneo de manifestação das emoções no intenso e árduo da elaboração/criação para aproximar-se à expressão de sentimentos e afetos pela dança.
Nesse processo de elaboração dos movimentos, equivale ao
despertar para realidade, para encontrar uma forma de transformar a angústia
imobilizadora em criativa; a rigidez em flexibilidade; a moral da necessidade
em ética do desejo, através do movimento do corpo em dança.
A pulsão de vida e de morte estão intrínsecas nesse
processo de elaboração do suposto corpo que se enxerga antes, durante e após a
dança. Freud (1906-1909) descreve que tanto a arte e a literatura moderna se
ocupam predominantemente dos mais delicados problemas, que envolvem todas as
paixões, que encorajam a sensualidade e a ânsia do prazer, o desprezo de todos
os princípios éticos e todos os ideais. Elas apresentam ao espírito do leitor
figuras patológicas, problemas psicopático-sexuais, revolucionários e outros
mais, nossos ouvidos são estimulados e superexcitados por uma música ministrada
em grandes doses, importuna e ruidosa.
A arte é uma possibilidade de expor o
que somos de forma menos caótica ao outro. Através da sublimação¹ o
sujeito pode pela dança canalizar seus instintos à margem do padrão social,
para um movimento que traz uma linguagem que transmite uma reflexão para quem
está observando, faminto por algo que capture todos seus sentidos, excitando e
desnudando à alma.
O lugar que o texto propõe sustentar é a questão psíquica
da imagem corporal no autoconhecimento pelo corpo, que é submetida à
transformação/elaboração do não-dito, que se expressa pela associação livre da
palavra e do não-corpo, que se inscreve, escreve e descreve em sua
temporalidade e no espaço através de movimentos muitas vezes sutis à distração.
Recorrer à psicanálise é importante para investigação
de passagens que não minimizem a condição fundante da imagem que se tem de si
mesmo e refletir a respeito de um corpo diante à dualidade em que está
submetido: o espelho matéria e espelho do olhar do outro, que demarca uma
limitação real do corpo-movimento que se vê e é visto.
“Sem ter como se esconder frente ao imperativo dos movimentos corporais escancarados no campo de visão de quem dança e de quem ensina dança, o corpo não consegue trapacear, ele é seu início e próprio limite”, Braga (2014).
Deste modo, este texto busca refletir a linguagem do
corpo não-dito ao corpo que se diz em dança sob à luz do olhar psicanalítico,
um movimento de estranhamento sobre esse corpo que se constrói, descontrói e
ressignificar na trama cotidiana das relações com o outro, na tentativa
sustentar a ética do seu desejo.
A linguagem tornar-se-á espaço para reflexão sobre o
corpo como uma possibilidade de sublimação dos instintos humano, para produção
do fazer artístico em dança, que aborda a expressão da imagem do corpo na dança
a partir de uma leitura psicanalítica, ao considerar que os corpos se lançam em
movimentos por não poderem se dizer única e suficientemente em palavras,
desenhando, assim, trajetória no espaço.
No terreno da arte e da vida, em que
há muito para falar, mas, muitas vezes, não existem vocábulos que possam
sustentar o que o corpo deseja exprimir, a dança apresenta-se como alternativa
para expurgar pela via da expressão, conhecimento e reconhecimento de si próprio
e do outro. O que traz movimento ao corpo que dança e ao sujeito que se
escreve, inscreve e descreve em sua temporalidade e no espaço?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund
(1906-1909). Obras completas, vol. 8: O delírio e os sonhos na Gradiva, Análise da fobia de um garoto
de cinco anos e outros textos; trad. Paulo César de Souza – 1 ed. – São Paulo.
BRAGA, Cristina Santaella (2014). Psicanálise, Dança e Educação: Caminhos e percalços.
VIJARVA, Maicon (2017). A Nova Dinâmica do Eterno: Sujeito do Real ao Virtual (Clique aqui).
FORBES, Jorge. Artigo publicado na Revista Psique - número 51, março 2010 Link direto do site do autor: (Clique aqui).
BRAGA, Cristina Santaella (2014). Psicanálise, Dança e Educação: Caminhos e percalços.
VIJARVA, Maicon (2017). A Nova Dinâmica do Eterno: Sujeito do Real ao Virtual (Clique aqui).
FORBES, Jorge. Artigo publicado na Revista Psique - número 51, março 2010 Link direto do site do autor: (Clique aqui).
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¹ Sublimação: processo em que a energia ou impulso sexual (libido) é direcionada para atividades com valor social aceitável.
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