Frequentemente, o paciente chega
ao terapeuta, repleto de angústia e sintomas, para os quais não tem
descrições. A situação inicial não é
clara nem para o terapeuta, nem para o paciente, que se sente neste período, no
mais profundo caos e escuridão, por não conseguir expressar em palavras, as
experiências repletas de sentimentos penosos que vem vivendo.
De acordo com W.R. Bion, caracteriza
o “conteúdo”, este sentimento, projetado pelo paciente, para dentro do terapeuta,
passa a ser representado como “continente”, uma vez que o terapeuta seja
suficientemente acolhedor para que o paciente exponha todo seu caos.
A partir desta dinâmica, o terapeuta
conhecedor deste mecanismo de conteúdo e continente, desenvolverá compreensão
ao receber o paciente, uma vez que saberá interpretar as suas agonias, sendo
muitas delas intensas, as quais necessitam encontrar, no terapeuta, a “continência”
necessária para reconhecer seu estado de pavor e acolhê-lo; e também de sentir
equilibrado para dar continuidade, ajudando o paciente por longo prazo.
A busca pela equipe médica, pelo
paciente, é o momento de extrema fragilidade mental, que observada mais minuciosamente,
oculta um estado de “terror sem nome”, ante o qual, o paciente se defende, através
de defesas muito primitivas, descritas por Melanie Klein, psicanalista
europeia, em 1946, em 5 fases:
CISÃO
O paciente chega com a mente
dividida em bom e mau. Desta forma, sem condição interna de perceber os bons
aspectos lado a lado com os aspectos frustrantes. Julgará a tudo e a todos de
forma estanque.
Exemplo:
Ou o terapeuta é lindo, bom e
eficiente quando “agrada” o paciente ou é mau e tenebroso, ao frustrá-lo. Há
uma intolerância acentuada às frustrações nestes pacientes.
IDEALIZAÇÃO
É típico encontrar uma
idealização – ampliação dos aspectos positivos – dos bons aspectos.
Exemplo:
O bom terapeuta é visto como
perfeito. Mas, para que isto seja possível é necessário que outra defesa entre
em funcionalidade: a negação.
NEGAÇÃO
Corresponde à fantasia de
aniquilar aqueles aspectos que são frustrantes e intoleráveis para a mente.
Dessa forma, a idealização aumenta espetacularmente os bons aspectos.
Exemplo:
O paciente nega o aspecto
frustrante do terapeuta e do trabalho desempenhado, e assim, “constrói” um terapeuta
perfeito, via idealização.
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA
O paciente com TA usa maciçamente
a identificação projetiva anormal, quando “evacua” seu desamparo dentro do terapeuta,
para obtenção de alivio imediato.
TRIUNFO
Caso o paciente não se sinta
“acolhido” nos seus conteúdos mais desesperadores como, por exemplo, sentir que
não pode contar com o terapeuta de forma onipotente, passará a desprezá-lo e
tentará negar o vínculo de dependência com o mesmo, mostrando-se “independente”
e triunfante sobre os esforços terapeutas. Essa defesa é vinculada à
onipotência.
Todas essas defesas conferem ao paciente
um carácter onipotente e frágil ao mesmo tempo, e não raro, exibindo
comportamento auto e hetero-agressivo, dentro de um vinculo extremamente frágil
com o terapeuta, pouco tolerante às frustrações inerentes ao tratamento
proposto.
A partir desta reflexão, a prática psicanalítica com um paciente dessa
desordem, segundo o Escritor e Psicoterapeuta Renato Dias Martino:
Encontra-se na tarefa de reconstruir o ideal do corpo, ou seja, o que se pretende como forma estética física ideal. Entretanto, penso que a questão está bem mais profundamente implicada, do que na superfície do ser humano, onde se encontra o corpo físico. Não é novidade alguma que a alimentação é uma das formas mais primitivas de contato, aproximação e vínculo entre os animais mamíferos e sobre tudo o ser humano. Na relação mãe-bebê, o contato feito a partir da amamentação é sem duvida o ponto de partida do contato da nova vida que nasce com o mundo externo.
As relações entre o terapeuta e o paciente devem seguir o modelo de
Bion, conteúdo e continente, levando em conta que, o paciente, não consegue
acolher suas frustrações de forma adequada, uma vez que não pode experimentar o
mesmo sabor de ser acolhido, assim dificultara de forma inconsciente o
tratamento e a relação entre paciente e psicoterapeuta. Se o psicoterapeuta
conseguir ser o continente suficientemente bom para o paciente, certamente
haverá uma aceitação das verdades experimentadas com amor dentro do set-terapêutico;
em que o paciente será preparado para ver a si mesmo, junto ao terapeuta.
REFERÊNCIAS
_Maria Auxiliadora Borges dos Santos – O cuidado com à equipe
multidisciplinar (2006)
http://www.fmrp.usp.br/revista/2006/vol39n3/15_cuidado_equipe_multidisciplinar.pdf
_Renato Dias Martino – Funcionamento Alimentar, 2011