“Tu te queixas porque não encontras nada a
teu gosto? Então, são sempre teus velhos caprichos? Ouço-te praguejar, gritar,
escarrar – perco a paciência, meu coração se despedaça. Ouve, meu amigo,
decide-te livremente, a engolir um pequeno sapo gordo, depressa e sem sequer
olhar para ele! – É remédio soberano contra a dispepsia.”
Nietzsche – A Gaia Ciência, pág. 27.
Em nossa trajetória de vida, somos
ensinados que devemos lutar a todo custo, não importando quais ferramentas são
utilizadas, para alcançar nossas metas – ou as metas de nossos pais ou pessoas
que idealizamos. Não é raro, que sempre somos manipulados, por parentes, amigos
social, amigo de profissão e entre outros, a inclinarmos nossa energia aos
pensamentos deles.
Quando crianças há o sentimento
indigesto de inveja, quando o trabalhinho do amiguinho saiu melhor que o
nosso... já nos sentimos incapaz de criar, pois remoemos por algumas horas o
desapontamento que o fracasso inspira em nosso interior. Mas, quando somos
nutridos pelo mesmo professor, que todos podem alcançar o seu mérito, sem
cópias, ficamos empolgados e voltamos a criar, trazendo o eu interno para o
externo, tendo como resultado, um brilhante trabalho. O sentimento de inveja é normal na infância, mas quando não trabalhado por um adulto junto com a criança, pode levar a adultos pessimistas.
O escritor e psicoterapeuta
Stephen Grosz, relata em seu livro, um trecho brilhante:
Não elogio uma
criança pequena por fazer o que ela deveria ser capaz de fazer. Eu elogio
quando faz algo realmente difícil – como compartilhar um brinquedo ou demonstrar
paciência. Uma vez observei Charlotte
com um menino de quatro anos que estava desenhando. Quando ele parou e levantou
os olhos para ela – talvez esperando um elogio –, ela sorriu e disse: “Há muito
azul no seu desenho.” Ele respondeu: “É o lago perto da casa da minha avó – há
uma ponte.” Ele pegou creiom marrom e disse: “Vou lhe mostrar.” Sem pressa, ela
conversava com a criança, mas, o que era mais importante, ela observava, ouvia.
Estava presente.
O que o autor observou, bem como
eu, é que a criança não deve ser elogiada por qualquer coisa que ela faz ou a todo o momento, pois isso além de
causar impacto a outras crianças, pode também causar um desastre no interior da
própria criança, impossibilitando o universo criativo, ou seja, de continuar
explorando as possibilidades de experimentar, ousar.
É importante incentivar
nossas crianças, jovens e até mesmo adultos. Mas é preciso ter um discernimento
e bom senso, para ser uma base sólida para quem procura identificação,
como a criança. Não devemos descartar, no exemplo de Charlotte, que o
reconhecimento é extremamente importante, mas em momentos que apresente dificuldade,
como expressar paciência e compartilhar algo individual. Talvez esses sejam gestos, para
solidificarmos uma sociedade melhor, mais humana e menos individualista.
Outro pensador, que ensina e
muito sobre afetividade, reconhecimento e otimismo é Mário Sérgio Cortella,
pensador filosófico contemporâneo. Uma frase que me marca até hoje:
Nós não nascemos prontos e vamos nos fazendo,
nós nascemos não prontos e vamos nos fazendo.
A criança precisa aprender, que não nasceu pronta, e por isso é necessário se esforçar para explorar suas habilidades, atualizando suas habilidades e conhecimentos. Por isso, que é necessário ser otimistas,
acreditar que as coisas podem mudar, as pessoas podem mudar e o mundo pode sim
ser melhor, basta nutrirmos isso em nós e no outro. No livro de Augusto Cury –
O Futuro da Humanidade, ele relata que a esperança é essencial para vida
humana, visto que sem ela, não iríamos chegar a lugar nenhum, por mais que isso
pareça em primeiro momento utópico. É importante
existir esperança e otimismo em nossos corações e mente, só assim iremos
caminhar para evolução de nossa espécie.
O pensador e poeta contemporâneo
Sérgio Vaz, em seu livro Leitura, pão e poesia. Descreve:
“Revolucionário é todo aquele que quer mudar
o mundo e tem coragem de começar por si mesmo.”
Na perspectiva do poeta, não há
como mudar nada nem ninguém, se nossos planos e objetivos não vierem de dentro,
do nosso interior. Assim, podemos cogitar que só é possível ensinar, quando
estamos prontos a aprender com nós mesmos e com o outro, visto que, não é
possível ensinar sem afetividade, reconhecimento e otimismo.
Quando pensei em escrever este
texto, não cogitei como começar, nem como finalizá-lo. Deixei fluir, talvez não
tenha começo, meio e fim. Mas, tentei ser o mais fiel aos meus pensamentos. E
me recordo neste exato momento, que em minha experiência na fundação casa, um
projeto enriquecedor, que vale a pena ser conhecido por você que agora lê este
texto. Nas fundações (cadeia para delinquentes, como cogitado pela sociedade) os arte-educadores, são a base para a reconstrução da
cidadania dos nossos jovens, dando autonomia e nutrindo-os, na visão de um
mundo possível para eles, fora e longe do crime.
Longe da ideia primitiva de
redução da maioridade penal, os arte-educadores acreditam em nossos jovem em
medidas prisionais, pois se não for acreditar é melhor nem entrar no universo
da fundação casa, pois de crítica já basta a sociedade. Por isso, devo citar
aqui também um brilhante poeta otimista, Renan Inquérito, em seu livro Poucas
Palavras, ensina-nos:
Não quero é ter que aceitar
Não quero é ter que engolir
Que uns nasceu pra brilhar
E outros nasceu pra polir
A afetividade e o reconhecimento
moderados e sensatos, serão a base para uma construção sólida e sadia para elos, entre os
seres humanos e humanizados. Esperança é uma pílula que devemos carregar junto com a gente,
nunca deixando de tomá-la, quando sentirmos ofuscados pela realidade dolorosa.
"Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado"
Provérbio africano